sábado, junho 30, 2007

CALMA, SENHORES MINISTROS

Amigos ou pelo menos leitores : que me dizem daquela história de Vieira do Minho ?
Conta-se em poucas palavras :

Acto 1 – O senhor Ministro da Saúde deu uma entrevista a um jornal. Entre outras preciosidades, afirmou que nunca na vida entrou num SAP, nem fazia ideia de alguma vez lá entrar ( acho que a ideia do Sr. Ministro seria a de que esses serviços estariam sempre insuficientemente dotados de equipamentos e pessoal, pelo que melhor seria muitos deles encerrarem ... ) ;

Acto 2 – Um médico do Centro de Saúde de Vieira do Lima, certamente sentindo-se “agradecido” ao Sr. Ministro por aquelas palavras, tão reconfortantes para quem todos os dias trabalha num serviço desses, resolveu afixar no placard do Centro uma cópia do jornal com a entrevista, adicionando-lhe um comentário brincalhão do género : “Façam como o sr. Ministro, não ponham aqui os pés !” ;

Acto 3 – O sr. Ministro, irritadíssimo com esta piada, exonerou a directora do Centro de Saúde ( não o autor da piada, cujo "castigo" acarretaria maiores dificuldades processuais ), invocando quebra de lealdade para com ele ;

Bom.
Que dizer de coisas como estas, que vão sucedendo um pouco por todo o país, entre cidadãos e membros do Governo ?

Em primeiro lugar, estas atitudes revelam insegurança.
Depois, imaturidade política.
Em seguida, uma atitude interior de pouca tolerância para com a forma de pensar dos outros.
Por ultimo, uma enorme confusão entre o que é o dever de lealdade institucional, de um servidor do Estado para com um membro do Governo, e a sua afinidade ou lealdade pessoal para com esse Governo, esse membro do Governo ou a sua política.

Estes sinais provocam inquietação em todos nós e também, segundo se sabe, dentro do próprio PS.

Mas que outra coisa seria de esperar, senhores Ministros ?
Este “nosso” Governo, em diversos sectores em simultâneo, investe sem dó nem piedade, tipo tsunami social, na destruição de muitas situações, a que chama de privilegiadas.
Os atingidos, funcionários do Estado, senhores de "privilégios" imensos como se sabe(embora não costumem fazer férias na neve nem em outros locais exóticos ) e milhares de outros cidadãos, atingidos pelo encerramento de instalações hospitalares,por exemplo, o que deveriam fazer ? Manifestações de agradecimento ao Governo, pelo empenho na defesa dos interesses nacionais ? Orações todos os dias pela manhã , pedindo graças divinas para os senhores Ministros ?
Ora vá lá, senhores Ministros : sou mais velho que a maior parte dos senhores, tenho a mesma formação académica, educação e inteligência, tenho experiência de vida e, num passado remoto, arrisquei tudo o que tinha ( não era muito, também ) para que este País voltasse a ter uma democracia. Sei o que custa hoje viver decentemente em Portugal, sem a protecção de privilégios, cartões de crédito, despesas de representação, carros caros de vidros escuros e outras mariquices quejandas. Não meto nem aceito cunhas, não precisei nunca de obter colocações vantajosas através de amigos, do partido ou da sociedade empresarial civil.
É desta posição, que receio bem comece a ser rara, que me permito lançar uma palavra de alerta e bom-senso : façam um esforço por cair no Portugal real, por perceber quão mal se vive neste gueto da Europa, por entender, finalmente, quão pouca gente percebe sequer o que os senhores Ministros pretendem fazer.
Pensam que as pessoas trabalham gostosamente e vivem para o combate ao défice, ou quê ? Terão sido os funcionários do Estado a inventar Institutos e outras posições muito bem remuneradas no mesmo Estado ? Somos nós que aumentamos as despesas e contratamos centenas e centenas de assessores e encomendamos pareceres e estudos caríssimos fora do Estado, quando lá dentro existem especialistas cuja função é essa mesmo ? Não vêem que estamos todos muito fartos de ouvir falar nisso, há anos e anos, aguentar salários sem aumentos ou aumentos baixíssimos, progressões congeladas, despedimentos, enquanto todos os outros países da Europa vão fazendo pela vida e conseguindo melhorar ?
Então, sinceramente, acham que os portugueses lhes deviam estar agradecidos por estes ultimos anos, nos quais obviamente incluo outros senhores Ministros anteriores a V. Exas ? Acham, a sério ?? Acham que os potugueses são parvos ?

Por ultimo, permitam-me que lhes recorde aquilo que Salazar sempre percebeu muito bem : deixem-nos ao menos brincar com estas coisas, senhores, inventar umas piadas, umas anedotas sobre V. Exªs ! Precisamos de válvulas de escape, senhores, não esqueçam !
Se nem isso lhes ( nos ) concederem, então podem ter a certeza, meus caros senhores, que os portugueses encontrarão, mais tarde ou mais cedo, uma resposta adequada para oferecer a V. Exªs.
Com toda a razão.

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