sábado, novembro 20, 2004

DOUTORES EM ECONOMIA, POLÍTICOS ... E NÓS, OS CRIMINOSOS CONSUMIDORES !
( texto não aconselhável a pessoas impacientes ou àquelas que apenas gostam de ver a quinta não sei de quem )

Todos sabemos que a política, em democracia, é uma espécie de equilibrio na corda bamba, em que se perdem votos, frequentemente, quando se tomam boas decisões e, ao invés, se é recompensado com a confiança acrescida das pessoas ao tomar decisões estratégicamente erradas. A esta ultima táctica chama-se demagogia, toda a gente sabe isto.
Já alguma vez pensaram, porém, quem é que avalia, com rigor e isenção, se uma determinada decisão política é ajustada, errada ou apenas demagógica ?
Não é problema menor, responder a esta questão. Bem vistas as coisas, uma decisão política é sempre correcta para os correligionários do governo que a tomou e normalmente errada para os seus opositores. No caso de não a poderem baptizar de errada, então chamam-lhe demagógica. Ou seja, não é má em si mesmo, mas está-se mesmo a ver que foi tomada só para ganhar votos.
O povo, esse, habituado a estas questões, está-se nas tintas para a eventual demagogia : toda a gente sabe que em vésperas de eleições é que se resolvem os problemas...Há mesmo quem afirme que as eleições deviam ser feitas todos os anos, por esse motivo !
Não me compete defender este governo que temos agora. Nem nenhum outro, para ser verdadeiro. Como muitas outras pessoas, não gosto mesmo do “cheiro” que este poder político emana.
Mas ... baixar o IRS é bom, mau ou demagógico ? Desbloquear o acesso às contas bancárias é bom, mau ou demagógico ? Aumentar os funcionários públicos é bom, mau ou é demagógico ?
Das críticas que têm vindo a aparecer ao projecto de orçamento para 2005, entre elas as do Banco de Portugal, retiram-se as seguintes ideias :

--> Não há margem de manobra para baixar impostos ... ou, noutra versão, a baixa dos impostos não existe, de facto ;
--> O consumo está a aumentar – e irá ainda aumentar mais, com este orçamento – quando o que devia aumentar era as exportações ;
--> Não podemos ainda deixar de nos preocupar com os déficits orçamentais, e este orçamento não cuida disso ;
--> Nesta fase do ciclo económico, em que começa a haver algum crescimento, deve reforçar-se a contenção e a consolidação das contas e não alinhar no “esbanjamento” como aconteceu no guterrismo.


Pessoalmente, acho um piadão a estes doutores da pseudo-ciência económica. Esquecem-se, quase sempre, que os actores da economia real são pessoas e não numeros, e ficam muito admirados e escandalizados quando essas pessoas ( que para eles são apenas variáveis de um sistema ! ) resolvem não proceder como eles previram ou gostariam.
Agora a grande algazarra é contra os consumidores, que decidiram começar a consumir coisas ( automóveis, TVs, casas, que sei eu ... ) antes deles dizerem “Já podem !” ....
É que assim, as importações aumentaram muito mais que as exportações e isso é horrível, dizem eles ! Não é sustentável !
Mas que culpa têm as pessoas que cá em Portugal não se produza nada a não ser receber turismo ? Vamos todos ficar à espera que se resolvam a aumentar as exportações antes de comprar casa e carro e rádio e televisão ? E isso é que seria bom para a economia ?
Ora deixem-se de tretas para-científicas, sim ? Não são os consumidores que devem resolver os problemas estruturais do país, são eles, os políticos, auxiliados pelo Banco de Portugal e outras digníssimas instituições. E são os empresários, também.
Mas já alguma vez, em algum país do mundo, os economistas e analistas financeiros e políticos ajudaram a criar o que quer que fosse ?
E quanto a contenções salariais, que o senhor dr. Vitor Constâncio tanto se afadiga a recomendar, vivamente, nos ultimos anos, apetecer-me-ia aconselhá-lo a começar por si e pelos outros administradores do Banco de Portugal. O exemplo tem sempre muita força, sabe ? Mas se calhar vão dizer que isto é demagogia da minha parte ...
Conclusão : não temos um governo capaz, é certo, mas esta oposição e estes técnicos das coisas económicas também não nos dizem para onde devíamos ir, pois não ?

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