terça-feira, novembro 23, 2004

UMA VIAGEM AO RIBATEJO

Saímos de Lisboa pelas 10 da manhã, eu todo engaiolado numa caixa de plástico com muitas frestas que me permitem ver a rua e as pessoas. Não fazia a mínima ideia para onde íamos, a mim ninguém diz nada por mais que eu mie a reclamar. Fosse como fosse, foi agradável a viagem : a minha dona tirou-me da caixa e deitou-me no seu colo e eu ia vendo as árvores a passar, lá fora, muito depressa.
Sabem a velocidade que temos de dar quando queremos apanhar um rato ou um pássaro ? Pois eu acho que íamos a andar mais depressa ainda que isso. Não faço ideia de como é possível uma coisa dessas, deviam ver ...
Uma soneca e chegámos. Numa terra do Ribatejo, ouvi-os dizer, mas não me ralei nada, porque me foram mostrar um sítio muito bonito ( o que será um quintal ? ), cheio de ervas, ramos de árvores espalhados pelo chão e muitos cheiros novos ... Tchiiii, aquilo pareceu-me muito grande, mas também é verdade que eu sou pequenito e acho tudo muito grande, porque ainda não sou capaz de correr muito depressa.
Só vos digo que foi a sensação mais maravilhosa que tive até hoje ! A princípio estava um pouco medroso, havia uns arbustos muitoooooo altos e cheios de esconderijos e passagens secretas, mas nunca me afastei muito do meu dono, essa é que é a verdade.
Ele andava a apanhar umas bolas amarelas, de umas árvores que vi com muitas dessas bolas penduradas, e punha-os numa cesta. Não faço a mínima ideia para que quer ele aquilo, nem sequer cheiram bem, as bolas, fui lá cheirá-las e quase espirrei ! Tive que lavar as mãos bem lavadas a seguir, aquilo até sabe mal ! É lá com ele, pensei, eu tenho aqui muito com que me entreter.
O pior foi pouco depois ... de repente, aparece-me à frente, vindo não sei donde, um tipo muito maior e mais velho que eu, preto com grandes malhas brancas. O parvalhão estava todo excitado, pôs-se a falar grosso e a mostrar os dentes, como se me fosse assustar com aquilo ... e a verdade é que assustou mesmo, o estúpido. Lá tive que miar a pedir auxílio ao meu dono : ele olhou e começou a dizer palavrões para o cretino invasor e a correr direito a ele, enquanto me pegava ao colo. O outro, o herói ribatejano, só teve tempo para fugir dali, a vociferar e a bufar . Bem feito, este meu dono ainda serve para alguma coisa ! Ouvi-o depois ( ao meu dono ) a dizer não sei quê de gatos territoriais, mas achei aquilo uma grande léria. O outro tipo deve ser é mesmo parvo de todo, que mal lhe ia eu fazer ?
Bem, com aquela mania das explorações, tinha-me esquecido de comer, o que raramente me acontece. Fui reclamar à minha dona ( acho que ela é que me sabe compreender quanto a essas coisas ) e lá me serviu um magnífico prato com bocadinhos de uma coisa muito saborosa a que ela chama peixe. Não sei bem se é peixe se é pescada, porque já a ouvi dizer as duas coisas... se calhar, ela não sabe bem o nome e diz outro qualquer, de vez em quando. Aquilo é mesmo bom, seja uma coisa ou outra, não tenho querido comer mais nada ... A não ser, claro, para acompanhar, um pouco de um líquido cheiroso e saboroso, parecido com aquilo que eu chupava na minha mãe. Também gosto muito disso.
O meu dono prefere um líquido, também, mas o dele é umas vezes quase preto, outras vezes quase amarelo, ainda não percebi porque é que ele muda de côr.
Bom, não vos quero maçar mais ... daí a um bocado, lá fomos outra vez para aquela casa esquisita que anda muito depressa. Desta vez, nem sequer me puseram na caixa que eu odeio, fui directamente para o colo da minha dona.
E sabem que mais ? Adormeci logo, estafado com as correrias e saltos. Quando acordei já estava na minha casa verdadeira outra vez, estoirado de todo, sem sequer conseguir abrir os olhos ( ainda não tenho 2 meses, é preciso ver ) ... mas feliz com aquela aventura.
Aquilo de andar “à solta” deve ter as suas compensações ... tenho de lá voltar !

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