terça-feira, dezembro 21, 2004

O MEU AMIGO FRANCISCO FREIRE DA SILVA

As nuvens voam baixo, hoje.
O Sol retirou-se cedo.
Levantou-se um vento súbito, gélido, que trespassa tudo e arrefece os velhos ossos.
O cérebro recusa aceitar a notícia, lembra tempos de alegria, camaradagem e luta, em terras banhadas por oceanos diversos, sob céus de outras estrelas.
Rejeito a notícia, não me interessa a verdade, não quero saber, não quero que me digam onde, nem a que horas nem para onde vai ... o meu velho amigo vai continuar por aí, por Lisboa, a enfrentar a doença com estoicismo e fé, a ter esperança no futuro e a lutar pela justiça social em que acreditava.
Não quero saber se este ou aquele me vem dizer, com ar compungido, que ele coitado ... Não é, não pode ser, nunca será verdade : da ultima vez que jantámos juntos ele contou-me que andava a tirar a carta de mota, deve ser isso, anda é por aí a acelerar, feito puto reguila como era há mais de quarenta anos atrás, quando nos conhecemos.
Não vou, nunca vou acreditar, não é verdade.
E contudo, o vento tornou-se muito mais frio e já não vejo nenhuma estrela no céu.
Mesmo assim, não aceito, digo apenas : adeus, Xico, amigo, até um destes dias ou meses ou anos ou quando fôr, não penses que te livras assim das minhas secas !

Sem comentários:

Enviar um comentário