quinta-feira, setembro 30, 2004

UMA GANGRENA SOCIAL ALARMANTE !

Em carta ao director do “PÚBLICO” de hoje, um professor do 1º Ciclo do Quadro de Zona de Bragança, de nome José Alegre Mesquita, narra o seguinte : pela primeira vez em 24 anos de ensino, e apesar da sua 89ª posição na lista ordenada, este ano não foi colocado em nenhuma escola, tendo-lhe passado à frente mais de 400 ( ! ) outros professores, invocando motivos de saude e juntando atestados médicos obviamente passados com apressada ligeireza, quando não mesmo com leviandade. Mais de 60% dos professores deste quadro apresentaram atestados desses, num caso sem precedentes no nosso país.
O Ministério da Educação determinou uma averiguação a esta situação, é verdade, mas o certo é que este professor não tem colocação e não virá a ser ressarcido das angústias e incómodos que esta gente sem escrúpulos lhe provocou.
O mesmo professor conta que todos os amigos lhe diziam para fazer o mesmo, ao que ele se opôs, na convicção de que a vigarice e o oportunismo não teriam êxito.
Enganou-se. Passaram-lhe todos à frente, fraudulentamnte, com a complacência de Governo e Sindicatos.
E ainda se este fosse caso único ! Mas não, os exemplos de comportamentos enviezados e pouco éticos têm crescido como cogumelos nos ultimos tempos em Portugal : foge-se aos impostos, incluindo um numero crescente de “deficientes”, como foi recentemente noticiado ; passam-se atestados médicos nitidamente “exagerados”; organizam-se golpes e calúnias contra pessoas ou partidos ; conseguem-se pensões de reforma dignas das Mil e Uma Noites ; chega-se a Primeiro Ministro sem votação prévia ou transforma-se uma região autónoma num domínio feudal ...
Nestes casos, como em muitos outros, os portugueses estão a interiorizar a noção de que compensa ignorar a lei e torpedear as normas. A sensação reinante é a de que usar expedientes ilegítimos para obter vantagens pessoais já não é vigarice, é apenas legítimo direito de defesa, é ser esperto numa terra onde vale tudo.
Esta noção deturpada e cínica alastra como uma gangrena pelo tecido social português, acelerada pela quase certeza da impunidade. As situações são bem conhecidas publicamente, há anos, sem vestígio de censura ou penalização.
Em Portugal começa a não haver espaço para a honestidade e seriedade.
Em Portugal os homens e mulheres de bem começam a sentir-se num gueto.
Em Portugal, a vigarice está na moda, a falta de escrúpulos é que está a dar, de cima a baixo, da direita à esquerda.
Enquanto isto se passa, todos nós continuamos calmamente a almoçar e a jantar, a dormir o sono dos justos e a passar umas fériazinhas regaladas no ripanço de uma qualquer praia.
Incluindo o sr. Presidente da República, os membros do Governo, os senhores deputados da Assembleia da República, os senhores procuradores da Procuradoria-Geral da República, os senhores bastonários das Ordens dos Médicos e dos Advogados, os senhores dos partidos políticos, os senhores dos sindicatos ... e todos nós afinal !
Quando iremos nós fazer qualquer coisa para interromper esta gangrena galopante ??
Senhores que detêm o poder político e ou a responsabilidade : ajam, por favor. Ajam. Sem perda de tempo.
Mostrem que o crime não compensa.
Se não o fizerem já, cada dia que passa aumenta a impunidade e faz alastrar o mal a toda a nação.
Ajam. Já não têm ( temos ) muito tempo.

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