sábado, fevereiro 09, 2008

DIREITO Á INDIGNAÇÃO OU INCAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO ?

A divulgação na imprensa de actos pessoais de figuras públicas, ilícitos ou anti-éticos, é um imperativo de qualquer regime democrático. É um mecanismo de controlo, por excelência, sem o qual esses actos ficarão sempre ocultos e, consequentemente, sem sanção jurídica ou política.
Concordamos todos que é assim ?
Beeeeeeeeemmm, nem sempre, diria eu.

Quando essas denúncias acontecem em Portugal, no tempo presente, nada se passa.
Pelo menos, nada de visível.
É como se nada nos pudesse já indignar ou fazer admirar. Como se já tivéssemos visto tudo, sem qualquer consequência. Descremos da equidade e oportunidade da justiça, não acreditamos também nas consequências eleitorais futuras desses actos. O que sabemos, isso sim, é que Isaltino Morais e Fátima Felgueiras andam para aí há ANOS para ser julgados ... e nunca mais se vê nada. Entretanto, são reeleitos.

Em Portugal, quando alguém como o actual bastonário da Ordem dos Advogados diz publicamente algo QUE TODOS NÓS SABEMOS, cai-lhe em cima o Carmo e a Trindade, clamam que o homem é populista e demagogo, um desmiolado, um perigo para a sociedade ...
Pois, é mesmo : um perigo ! Só que não é para a sociedade, é um perigo para este reino da paz podre e do faz de conta, um perigo para o saque desavergonhado em que a nossa vida publica se está a transformar.

Como entidade colectiva, a parte urbana da sociedade portuguesa apodreceu. Cheira mal, tal como a boca do Dantas, nas palavras de Almada Negreiros, embora ele próprio não cheirasse a rosas, acho eu.
Portugal urbano perdeu o pudor, perdeu a capacidade de se indignar. Há demasiada gente entretida a sacar o que pode, enquanto outros andam distraidos a olhar para o futebol. Há demasida gente pronta a culpar os jornais, em vez de censurar os autores dos actos investigados pelos jornais. Há sempre alguém que resiste, dizia o Adriano Correia de Oliveira, mas isso era dantes : agora há sempre alguém que encolhe os ombros e diz : “O gajo fez isso ? Então e depois ? Onde está a gravidade ? Todos eles são assim, uma cambada, que se lixe !”

Mário Soares falava do direito á indignação, certo ? Pois agora do que se trata é da incapacidade de indignação, já não há quem queira exercer esse direito.

Não é verdade, ainda há Pessoas. Mas são poucas, muito poucas.

Nada disto vem a propósito de Sócrates e das suas assinaturas em projectos de moradias lá para as faldas da serra ... Não, desta vez não é Sócrates que me entristece. Ou não é apenas Sócrates.
É o País.
Este País que eu sempre amei, este País que eu jurei defender, mesmo com o risco da própria vida, este País está a ficar um esgoto putrefacto e nauseabundo.
Este desgraçado País está cheio de merda !

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