sexta-feira, fevereiro 08, 2008

A MÁ CONSCIÊNCIA NA POLÍTICA

Sempre fiquei muito irritado quando alguém presume que que sou ignorante ou imbecil. O grau dessa irritação sobe de tom quando me parece que a coisa é feita com acinte e sem grande cuidado, isto é, que se parte do pressuposto que somos todos uma cambada de parvos que engolimos tudo.
Sobretudo quando se trata de pessoas a quem elegemos ( neste caso, é apenas um eufemismo, o tempo verbal ) e pagamos para gerir a coisa pública.

Ouvi hoje um senhor qualquer na TV, a perorar sobre o sistema de avalição dos professores, defendendo a bondade e virtude do sistema. Percebi depois que era um secretário de estado. Argumentos estafados, pobres, tipo “é assim que se faz no estrangeiro” ou “então querem que todos sejam iguais ?”.

Clama o senhor ( mais a ministra, mais o primeiro-ministro ) que nenhuma das reformas em curso na área da educação têm por motivação a questão da redução dos custos com o pessoal. Afirmam-no indignada e categoricamente. Como ousamos pensar isso ?
A separação dos professores em titulares e não-titulares não foi nada arbitrária, a avaliação e a consequente imposição de quotas máximas para as boas classificações também não. Tudo se rege pelo objectivo de melhorar o ensino, afirmam.

Bom.
Estão a querer fazer de mim estúpido, parvo ou as duas coisas ?

Então o que sucede a um professor que não é titular ? Deixa de dar aulas e de ter os seus alunos a quem vai transmitir conhecimentos e atitudes ?
O que sucede a um professor cuja avaliação for apenas razoável ou, sendo muito boa, não couber na quota estabelecida ? Deixa de dar aulas ? Deixa de ter alunos ?

Se a estas duas questões afirmarmos que não, não deixam de dar aulas, vão continuar a ter os seus alunos como até aí, porventura mais desmotivados e reactivos, como será de esperar, então a que conclusões podemos chegar ?
Se esses professores vão continuar a dar aulas, com os mesmos alunos, apesar de não serem titulares e não terem excelente ou muito bom na avaliação, COMO RAIO É QUE O ENSINO VAI MELHORAR ???

Qual é a unica coisa que muda então, digam-me lá ?
Como vimos, a qualidade do ensino não é, uma vez que esses professores continuam onde estavam, a dar as suas aulas.
Então que é, adivinhem, vá ...

Isso mesmo : a unica mudança é que o dito professor não vai progredir na carreira e vai, portanto, custar menos dinheiro ao patrão Estado.
Ou não é ?
Gostava de ver negado este raciocínio por quem quer que fosse.

Bom, e gastar menos dinheiro com os professores é assim tão imoral ?
Não, não é.
Tem todo o direito de fazer isso.
Do que não têm direito é de negar este objectivo, e andar para aí a dizer que estas medidas visam a qualidade do ensino.

Mas há mais : um dos parâmetros de avaliação dos professores vai ser o resultado que os seus alunos obtiverem. Pede-se aos professores que fixem um objectivo-meta quantificado, tipo “os meus alunos da turma x vão melhorar o aproveitamento em 10%, relativamente ao ano anterior” e já está. No fim vai medir-se o cumprimento desse objectivo.
Ora bem : então a meta é fixada pelo professor e é ele que vai dar as notas que vão dizer se esse objectivo foi ou não alcançado. Certo ?
Oh meu Deus, uma vez mais estão a fazer-me passar por parvo.
Mas então, nestas circunstâncias, haverá algum professor masoquista que vá chumbar quem o merece se isso for comprometer o seu objectivo ? Haaaaaã ? Digam lá ?
As notas não vão melhorar, todas elas, a olhos vistos, com alegria incontida da senhora ministra ?
Vamos apostar ?

Uma vez mais : todas as medidas visam a melhoria do sistema de ensino, não é ?
Como se vê.

Assim, não. Assim, estão a tentar deitar-nos areia para os olhos.
Com todas as letras : estão a esconder de nós os verdadeiros objectivos da sua reforma.
Por mim, é algo que me irrita, repito : não gosto que me tomem por tolo.

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