segunda-feira, outubro 06, 2003

O MEU GATO AMARELO
Tenho ( a meias com a minha filha ) um gato amarelo, com pouco mais de um ano. É um bichano sem passado familiar conhecido e sem raça especial. Rafeiro europeu, chama-lhe um compêndio de gatos que folheei um destes dias na FNAC.
Não pensem que essa classificação de rafeiro o desmoralizou e fez dele um ser amargurado e complexado ; muito pelo contrário, é senhor de uma forte personalidade, sabe o que quer e costuma sustentar os seus argumentos com uma gesticulação adequada das patas dianteiras, armadas de umas unhas longas e bem cuidadas ( leia-se, afiadas ).
Grande adepto da actividade física e dos jogos de ataque e defesa, desafia-nos muitas vezes para “treinar” com ele : é vê-lo emboscado, atirando-se decidido às nossas pernas, com um ar perfeitamente determinado ... Nessas alturas, o seu golpe preferido é uma mordidela rápida no tornozelo, fugindo depois desavergonhadamente ... uma táctica de guerrilha perfeita, devo dizer !
Outras vezes, porém, quando lhe dá para as ternuras, vem sorrateiramente, quando estou na cama, e deita-se em cima do meu peito, a ronronar e a olhar para mim com um ar que me parece um pedido de desculpas pelas mordidelas ... mas que se calhar é apenas um ar de rufião cansado de tanta correria.
Este nosso gato – como quase todos os gatos - passa a maior parte do seu tempo em casa. Já experimentámos deixá-lo ir para a varanda, mas não é nada agradável ver um gato empoleirado em equilibrio precário num muro de varanda de um 6º andar ...
Hoje, porém, levámos o Cenoura ( assim se chama ) ao “campo”, a um quintal cheio de árvores, ervas, raízes, terra e outras coisas com cheiros novos e maravilhosos para ele ! Deviam vê-lo, feliz da vida, a cirandar por ali de rabo no ar e a correr atrás das lagartixas !
Quando olhamos um bicho destes, assim, ao ar livre, percebemos bem a “maldade” de os metermos dentro das nossas casas. Sinto a consciência pesada, acho que ficam desculpadas todas as arranhadelas e mordidelas passadas e futuras.
Penso nisso, agora, já em casa outra vez, ao olhar para ele enroscado na sua “cama”, completamente cansado das aventuras do dia.
Gosto de gatos ; em muitos aspectos, invejo-lhes a sabedoria.
Porém, tal como muitos de nós, homens, acho que se acomodaram demasiado à falta de liberdade.

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