domingo, outubro 26, 2003

DOMINGO, FIM DE TARDE
Hoje, eram 5 da tarde, fui dar a minha volta a pé. Gosto de andar a pé. Costumo ir ao Colombo, são cerca de 20 minutos a pé de minha casa, atravessando uma zona de que gosto muito, e que confina com os terrenos da "ultima quinta de Benfica", sobre a qual já vos falei em escrito anterior.
O passeio tem os seus laivos de ruralidade, estão a ver ?
Blusão quente, já de Inverno – nunca sei quando é que hei-de mudar de roupa – chapéu de chuva na mão, lá fui eu, debaixo de alguns chuviscos e de um céu ameaçadoramente negro.
Por falar em negro, ao passar mesmo ao lado da tal quinta, um homem negro dos seus quarenta anos olhava, extasiado, para o céu, saudoso da sua África de céus magnificos.
O céu estava realmente belo, acreditem. Os negros ( os do céu, não confundam ) misturavam-se com brancos muito brilhantes a reflectirem alguns raios de sol ainda resistentes. Umas núvens encasteladas, tipo ondas de mar junto da rebentação, tornavam a situação ainda mais estranha.
Quando passei pelo homem ele olhou para mim, um pouco envergonhado de estar para ali parado a admirar o céu. Não resisti e atirei-lhe com um cúmplice “Céu bonito, hem ?”. Fui recompensado com um sorriso aberto, branco, e um “É mesmo !” bem africano .... Coisas que vão acontecendo.
Entrei no Colombo ... e saí passado pouco tempo, aos Domingos aquilo é uma aproximação muito real da imagem que tenho do Inferno : gente, gente, gente e tudo aos encontrões.
À saida, lembrei-me de comprar umas castanhas assadas, mas acreditem ou não, o homem não tinha nenhumas: aquela gente toda, pelos vistos, também gosta de castanhas assadas ... raios os partam, eu não digo que isto assim é um inferno ?
Regressei, frustrado, sem as castanhas. Que se lixe, melhor para a dieta. Vim andando e olhando à volta.
À esquerda lá estava o terreno da quinta, as pequenas hortas, as couves ; logo acima da linha do casario da quinta, o céu estava mais harmonizado, todo em tons de cinzento escuro ; mais à frente, nas silhuetas dos prédios na Avenida do Uruguai, apareciam os primeiros rectângulos de luz. Ainda mais ao fundo, adivinhavam-se os contornos de prédios na Pontinha. Os carros, deslizavam do meu lado direito, com um ruido surdo, já a verem mal a estrada e a acenderem os olhos. Apenas duas ou três pessoas a andarem, como eu, ao longo do passeio bem pavimentado, com árvores jovens e uns candeeiros já acesos, também. Por acaso, uma delas era uma jovem com um rabo bem desenhado, andar quebrado e balançado que me fez lembrar Tom Jobim e as garotas de Ipanema...
Senti paz, neste fim de dia. Senti harmonia nas coisas. Lembrei-me de pessoas queridas e de amigos que já me deixaram. Senti saudade ... mas também me senti feliz por estar vivo e poder olhar estas coisas simples.
Chamem-me agora simplório ou senil que acaba-se já a paz deste fim de dia e vos dou uma coça das antigas !!!! Ehehehehehe !

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