sábado, outubro 25, 2003

FUMAVA MUITO, NÃO ERA ?
Hoje dei comigo a pensar nos mecanismos de auto-defesa e tranquilização psicológica que todos nós usamos na nossa vida. Quando alguém morre de ataque cardíaco ou cancro nos pulmões perguntamos logo, esperançados na resposta:
“Fumava muito, não era ?”
Nós não fumamos, claro, portanto ...
Se ouvimos falar de uma vítima de SIDA, lemos logo avidamente a notícia, ou perguntamos a um amigo, tentando garantir que o infeliz era homosexual, drogado ou tinha uma vida sexual muito dissoluta.
Nós não somos nada disso, claro, portanto ...
A confirmação destas circunstâncias acalma-nos e tranquiliza-nos, “aquilo” não nos vai acontecer, estamos fora do grupo de risco. Que as coisas nem sempre sejam tão simples assim pouco interessa, o que conta é o sentimento de estarmos protegidos do mal.
Vem isto a propósito das notícias recentes sobre acidentes de trânsito, provocados por condutores em contra-mão. Em autoestradas ou vias rápidas, claro, a questão não se põe nas velhas estradas de dois sentidos.
Na minha perspectiva, dentro de cada um de nós, aparecem reacções do tipo “isso só acontece aos velhotes já senis e a putos malucos amantes de sensações radicais”. Ou então, se nos colocarmos no papel dos condutores potenciais vítimas desses actos, pensamos que seríamos capazes de evitar o acidente.
Convenhamos, são muito humanos estes mecanismos de defesa e de auto-protecção.
São humanos ... e são negativos, desresponsabilizantes, egoistas. São gato escondido com o rabo de fora, são a avestruz com a cabeça escondida na areia.
As doenças cardíacas, o cancro e a SIDA existem mesmo, podem atacar qualquer um, incluindo a nós próprios. E existe também a possibilidade de entrada errada numa faixa de autoestrada. Em vez de ficarmos tranquilos porque, eventualmente, estamos fora do grupo de risco, devíamos exigir que se gastasse mais tempo e dinheiro a investigar possíveis curas e soluções.
E se pensam que isso já sucede, então deixem-me dizer-lhes a minha sensação : a maior parte da investigação médica aplicada, digamos assim, a nível mundial, tem sido desenvolvida pela industria farmacêutica ou por ela financiada. Esta industria já ganha muitos milhões com os medicamentos que actualmente produzem para essas doenças. Ganhariam muito mais com uma simples vacina para a SIDA, por exemplo ? Respondam e pensem, e não se limtem a dizer que eu exagero e sou fundamentalista. Porque até nem sou.
Quanto aos velhotes que entram ao contrário nas autoestradas e vias rápidas : há aí alguém que afirme nunca ter hesitado num acesso qualquer ? Quem é capaz de afirmar que a sinalização das nossas autoestradas é suficiente para elucidar perfeitamente qualquer pessoa, velha ou nova, sóbria ou com duas cervejas, de dia ou de noite, com visibilidade ou em pleno nevoeiro ? Não há nada a fazer na melhoria dessa sinalização ?
Pois.

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