quarta-feira, outubro 08, 2003

AS CITAÇÕES
Já repararam na enorme quantidade de autores que são citados em muitos artigos de opinião, com preocupações de qualidade, publicados nas revistas e jornais portugueses ?
Das próximas vezes que lerem um artigo desses, observem e contem. Cinco, seis ou mais referências a outros autores são atiradas contra o pobre leitor, esmagando qualquer veleidade de discordar ( e até de concordar , ehehe ! ), tal é a abundância das opiniões e argumentos alheios que lhe são atirados. Muitas dessas referências são de autores ou profissionais estrangeiros, que o que vem de fora ainda tem muito valor nesta nossa terra.
Eu sei que muitas vezes dá jeito recorrer a uma opinião exterior, a alguém conceituado que confira credibilidade à nossa tese. Isso é normal, a prática dessas referências é ensinada e muito estimulada no meio universitário ( é “obrigatória”, por assim dizer ) e por aí fora ao longo da vida profissional.
Mas com esta abundância ? Em artigos escritos em revistas/jornais destinados ao grande público ? Invocando nomes perfeitamente desconhecidos para o comum dos mortais, ou mesmo para a maioria dos leitores cultos ?
Hummmm, acho um costume muito intrigante e levemente ridículo.
Como se tivessem medo de ser apelidados de cretinos ou ignorantes se não alardearem tamanha erudição nas referências.
Como se precisassem permanentemente do aval de outros autores ou intelectuais.
Como se não tivessem as suas próprias convicções e sínteses.
Como se se tratasse, por vezes, no caso de autores já “respeitáveis” e conhecidos, de um jogo de referências cruzadas, do tipo “cito-te a ti, fazes o favor de me citar a mim depois, hem ?”
Não rejeito, claro, as referências, o contributo da opinião dos outros, o esgrimir de argumentos nossos e de terceiros.
Penso, contudo ( ingenuamente ?? ), que discorrer sobre um tema qualquer é muito mais que interligar as opiniões de meia dúzia de outras pessoas sobre esse tema, procurando nelas uma intelegibilidade para o problema.
Isso é um tipo de trabalho que admito bem num estudante universitário, ou mesmo num jornalista ... mas que me faz alguma “comichão” mental, quando se trata de um intelectual de sólida formação e grande experiência. Alguns deles, nem sequer precisavam para nada dessas referências, sendo bem melhores na sua forma de raciocinar que as “autoridades” referenciadas !
Como, de resto, frequentemente afirma Noam Chomsky(*).
Ehehehehehe ....
(*) Se Chomsky não tiver nunca afirmado nada do género ( o que é dificil uma vez que faz afirmações sobre uma data de assuntos ), peço desculpa, mas também não faz mal, ficou bem no texto ...

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