quarta-feira, janeiro 07, 2004

À TARDE, JUNTO DO TEJO, NUMA PRAIA COM LIXO
Sabem onde é agora o centro de controlo do porto de Lisboa ? Aquela espécie de torre de Pisa do Tejo ? Em frente da gare de caminho de ferro de Algés, perto da Doca-Pesca. Há aí ainda uma pequena praia, com areia, ondas e gaivotas.
Vê-se de tudo, na areia dessa praia, trazido pela corrente e pelas marés. Canas, pneus velhos ( os barcos têm pneus ?? ), bocados de redes e de bóias, tábuas de barcos apodrecidos e desmantelados, sei lá que mais.
Uma ou outra vez, agarrei numa cana comprida e lembrei o lançamento do dardo, para a água. No Verão, tenho visto por ali pessoas em fato de banho, na areia, á procura do bronzeado miraculoso. Agora, só se vêem gaivotas a sobrevoar a água e andorinhas do mar a andar pela areia, esperançadas em qualquer petisco que surja.
Em frente fica a Trafaria, com aquelas silhuetas escuras e feias dos silos e das gruas para descarregar e carregar os navios. Quando olho para a Trafaria, lembro-me sempre de uma ou outra boa refeição que já ali comi. Hoje, enquanto olhava, pensei nos petiscos da “Tasquinha do Aires” : morcela e chouriço assado, salada de polvo, um vinho verde tirado à pressão.
Vinda não sei donde, uma fragata da nossa Armada entrava no Tejo, imponente e rápida, sem precisar do barco dos pilotos da barra. Um pouco atrás, um navio a abarrotar de contentores ; é um milagre como aqueles navios não perdem os contentores todos em alto mar, quando há tempestades.
A meio caminho da outra margem, cerca de duas dezenas de pequenas embarcações com uma ou duas pessoas, suponho que de pesca artesanal. Pescarão o quê, ali e a estas horas ?
A partir dessa praia há um cais que corre ao longo da marina da Doca-Pesca. Foi pavimentado há uns dois anos e tem uns bonitos candeeiros e tudo. É claro que já arrancaram do chão uma série de lajes de pedra e que as lâmpadas dos candeeiros estão quase todas partidas. Nunca conseguimos esquecer o país que somos, não é ?
Fui andando por esse cais, entretido a ver os pescadores desportivos que por ali estavam. Não vi ninguém apanhar sequer um peixito, mas também suponho que não é isso que é importante para eles. Era gente nova, conversavam, gorros na cabeça e camisolas de lã, umas chupadas nos cigarritos. O que interessa é a perspectiva, a esperança de apanhar algo, não é ? Pescar assim é ter esperança.
Uma bonita cadela cor de mel corria de um lado para o outro, veio até junto de mim, quando passei, para uma festa na cabeça. Bichita linda ! O dono olhou-me e sorriu, antes de virar a cara para o mar, não fosse o sargo escolher aquele momento para picar.
Dei a volta, olhei o céu de um cinzento feio ( tinham previsto aguaceiros ... ) , caminhei para o carro e regressei a casa.
Eram 5 da tarde de um dia vazio com muitos pormenores à volta.

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