sábado, janeiro 31, 2004

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NEVOEIRO EM MONSANTO

Da varanda da minha casa, em Lisboa, vejo Monsanto. Não muito bem, construiram mais uns calhamaços de betão que me taparam parte da vista, mas ainda vejo as árvores por entre os prédios. Vejo também o fim da 2ª Circular, os carros sempre apressados, entrando ou saindo da via mais congestionada de toda a Europa : o IC19, para Sintra.
À noite, vêem-se as luzes das antenas de TV de Monsanto e os faróis dos carros, reflectindo-se nas árvores e nas bermas.
Esta tarde, porém, não se vê nada. Alguém deitou um spray de nevoeiro pela encosta toda e escondeu tudo : nem árvores, nem antenas, nem carros. Para ser sincero, nem sequer posso ter a certeza de que Monsanto ainda lá está.
Como muitas outras coisas na nossa vida, supomos que a realidade não muda tão depressa assim. Se as árvores estavam lá ainda ontem, hoje também devem estar, não acham ? As árvores não costumam sair por aí fora, não é ? E contudo, o leitor com mais experiência de vida já aprendeu que a realidade muda mesmo, por vezes dramaticamente depressa ... Aquilo com que se contava ontem já não existe hoje, ou, ao invés, vejo hoje ao pé de mim pessoas ou coisas que não estavam cá ontem. Pois é, a mudança. Nem sempre boa, nem sempre desejada, muitas vezes inesperada.
Temos que aprender a viver assim, não é ? Com uma espécie de nevoeiro nas nossas vidas, nevoeiro cerrado, que nos rouba coisas e pessoas ou nos traz outras, todas elas inesperadamente. Eu sei como é, comigo isso já aconteceu.
É por isso que não tenho a certeza que a encosta de Monsanto, com todas aquelas árvores, ainda lá esteja no mesmo sítio ...eu depois digo-vos.

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