quinta-feira, janeiro 22, 2004


EU E O OUTRO

Quando estou muito tempo sózinho, sem falar nem ouvir vozes ( sequer da TV ) acontece-me algo semelhante a uma dissociação entre mim ( a minha capacidade de pensar ) e o meu corpo. É como se o meu eu pensante fosse alguém distinto daquele paspalhão que está ali sentado. Chego a falar com ele, normalmente para o insultar e perguntar o que está ali a fazer, em vez de ir tomar uma imperial à beira do Tejo, no fim de tarde ...
Não sei muito bem se isto não será uma daquelas doenças de personalidade de que os psiquiatras tanto gostam.... seja como for, não vou perguntar a nenhum, ficava a saber o mesmo e com menos 100 ou 150 euros, não era ?
Também não vou ao ponto de pensar num desdobramento de personalidades. Não, aqui há sempre apenas uma personalidade, embora em diálogo com o outro eu. Mas esse outro eu não tem sequer personalidade, que eu saiba.
É mais como se me visse a mim próprio, de um ponto exterior ao meu corpo. O meu ser pensante ( ia a dizer inteligente, mas isso já seria imodéstia ehehehe ! ) está nesse ponto exterior, e sou capaz de olhar para mim próprio com um distanciamento semelhante áquele que teria se estivesse a olhar uma outra pessoa.
Esquisito, não é ? Não sei nada de psicologia que me possa explicar esta sensação e, francamente, não estou muito interessado em pesquisar.
Está baralhado e perplexo, leitor, com este meu post de hoje ? Olhe, foi aquilo que me veio à cabeça...
Mas, pensando melhor, interpelo-o agora a si, leitor ! Nunca esteve em frente a um espelho, a olhar aquele tipo ( ou tipa ) que está na sua frente ( ainda por cima a imitá-lo nos movimentos ... ) e lhe apeteceu perguntar, em voz alta : “Quem és tu ?” ? Nunca fez isso ?
Então aconselho-o a experimentar. Talvez fique mais ciente deste extraordinário mistério que é o ser humano inteligente. Com capacidade de se olhar a si próprio e de se colocar questões.
Não será esta capacidade, esta duplicidade de ser e de se interrogar que distingue o ser humano dos outros animais todos ?
Bem, para não pensarem que estou vidrado de todo, informo-os que vou jantar esta noite a um restaurante italiano, com amigos do peito de longa data. Pasta e chianti ... e que se lixe a dieta.
Isto é o outro eu a falar, eu não digo alarvidades destas e cumpro a minha deita à risca.
Até amanhã. Sejam felizes.

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