domingo, janeiro 25, 2004


A IMPROVÁVEL TERNURA

Sofia Coppola realizou o seu segundo filme, a que chamou Lost in Translation. A história é banalíssima e contudo aborda um dos segredos mais tocantes do ser humano, o milagre da empatia profunda entre duas pessoas. Neste caso, uma delas um velho actor em crise de carreira, a filmar um anúncio no Japão, e a outra uma jovem de 20 e poucos, recém-casada com um fotógrafo quase sempre sem tempo para ela. O envelhecimento bem humorado de um homem e o inicio de vida desencantado de uma jovem mulher. A improvável cumplicidade entre os dois. A ternura urgente embora impossível.
Ela pergunta, referindo-se à vida que a espera no futuro, à incerteza da relação com o marido : “Com o tempo isto torna-se mais fácil ?”. Ele hesita, demora o seu tempo e sussurra : “Não”. E lentamente, hesitantemente, singelamente, acaricia-lhe um pé.
Nunca se abraçam, nunca se beijam, nunca pensam em sexo um com o outro. Apenas sabem que se sentem bem os dois, que lhes apetece sorrir um para o outro, que existe uma grande ternura mútua.
Tudo os separa : a diferença de idades, a mulher e os filhos dele, o marido dela. A separação é um fim óbvio quando ele regressa a casa, nos EUA... Aí, e só no último momento, ele corre atrás dela e a abraça e beija comovidamente. E parte, olhando aturdido o espectáculo dos anúncios nos edifícios da cidade.
Sentimos perfeitamente o carinho e a ternura no ar, também nós.
E a esperança, também.
Coisas simples da vida, uma realização discreta e sóbria, um filme que faz de nós pessoas melhores, na saída.
Vão ver, façam favor.

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