quarta-feira, março 03, 2004

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A GLOBALIZAÇÃO, MAIS MEDOS QUE RAZÃO ? ... OU TALVEZ NÃO ?

Imagine-se um técnico de informática, um analista-programador, funcionário de uma grande firma nacional de software. Quarenta e três anos, um bom vencimento, família ( mulher e 2 filhos ) e uma bela casa nos arredores de Cascais.
Um belo dia, o céu escurece instantâneamente para si. A "sua" empresa decide cessar em Portugal a sua actividade e ir operar na Índia, onde existe uma interessante “bolsa” de técnicos informáticos bem qualificados, com vencimentos cerca de um quinto dos vencimentos pagos em Portugal .... a globalização ao vivo !
Seguem-se tempos angustiantes, negociar indemnizações, minimizar o desastre. Será praticamente impossível encontrar igual colocação em outra empresa a operar em Portugal, as grandes estão todas a deslocalizar-se, as pequenas não lhe podem pagar um salário nem sequer perto do anterior, para além de não precisarem das suas qualificações de topo.
Acomoda-se, tenta baixar os custos da sua vida diária, vende o carrão, troca a casa de Cascais por uma em Alcochete, tenta manter a dignidade, última coisa que deve morrer.
O dinheiro da indemnização não é elástico nem eterno, decide investir num pequena loja de computadores no Centro Comercial de Alcochete. Dois anos depois, tem que fechar a loja, as dívidas acumularam-se, já nem o aluguer consegue pagar. É o fim, aos 46 anos. O casal passa a viver do salário da sua mulher, funcionária pública no Ministério das Finanças.
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Esta história está hoje a passar-se, com grande aceleração, em países europeus, como a França ou a Alemanha, e também nos EUA. A “fuga” de empresas grandes, de tecnologia de ponta, para outros países da Ásia ou do Leste europeu, acontece todos os dias.
Os Governos, preocupados com o fenómeno, tentam travá-lo, com multas às empresas ou aplicação de taxas adicionais, quando os produtos vierem a ser vendidos nos seus mercados internos.
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Em artigo de Sarsfield Cabral, publicado no “Diário de Notícias” de hoje, desdramatiza-se esta questão, argumentando que as empresas que deslocalizam os seus serviços contribuem para o aumento do nível de vida dos países para onde vão, e, além disso, através da melhoria da sua produtividade, passam a dispor de mais recursos para tornar a investir e gerar novos empregos, também nos países de onde sairam. Acreditando nesta teoria, acusa os governos que referi de irracionalidade, criticando-os por cederem a interesses sectoriais.
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Caro leitor/a : quer comentar esta história e a opinião de Sarsfield Cabral ? O que acha que vai acontecer na economia destes países onde a fuga se está a dar ? Preocupa-o/a esta questão ?
Ou acha, simplesmente, que sou um chato do caraças, ao escrever sobre isto ?
Ehehehehehe .....

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