sexta-feira, março 05, 2004

ANGÚSTIA PARA O JANTAR
Hoje é outra vez sexta-feira. Bah...e depois ? Já lá vai o tempo em que o início do fim de semana me dava alegria. Agora é apenas mais um sábado e domingo, com rituais repetidos e, o que é pior de tudo, com uma vontade de os viver muito perto do nada.
Continuo a pensar que tenho que dar uma volta grande à minha vida, mas hesito, contemporizo. Creio que não é medo meu, é mais o medo das mudanças que vou provocar nos hábitos dos outros, nomeadamente na vida da minha filha.
Não sei muito bem qual possa ser essa tal volta, não passa por viver com uma mulher ou sequer por arranjar um “affair” interessante. Parece-me que envolveria sempre uma mudança drástica no ambiente envolvente, no local onde vivo. Apesar de gostar deste sítio.
Por vezes, brinco comigo mesmo “Mas que raio queres tu ? Apanhar polvos na Grécia ? canoagem no Colorado ?”. Não sei. Se calhar é apenas vontade de fugir aos problemas e de ir para onde não tivesse que me preocupar com mais nada nem mais ninguém até ao fim.
Não sei, não mudo nada, não viajo, não trabalho, não escrevo : assim vai passando o tempo e eu limito-me a ajudar os outros nas suas decisões.
Conhecem Alberto Morávia, escritor italiano que tão bem descreveu o interior da classe média italiana do tempo do fascismo ( e não só ) ? Percebeu e descreveu excepcionalmente bem o que é o tédio, o aborrecimento, a indiferença, como esses estados de espírito corroem a alma e destróiem a vontade de viver.
E tantos outros escritores, incluindo o nosso Pessoa, sempre a navegar na orla do vazio e a acabar por morrer só e sem respostas. E Luis de Sttau Monteiro, que deu origem ao título deste texto.
Há muita gente que pensa ser este um problema fácil : mexe-te, faz qualquer coisa, vai para a dança aprender salsa, vais ver como ficas logo bom !
Se tudo fosse assim tão simples. Para mim, nunca foi.
Acreditam que eu tinha uns 4 ou 5 anos e passava a vida a chatear a minha mãe, perguntando-lhe que havia eu de fazer, porque estava aborrecido ? Já vêem, esta minha angústia e apatia, este sentimento de que poucas coisas valem a pena, já vem de longeeeeeeee !!
Caramba, angústia existencial aos 5 anos de idade é obra, hem ? E se não acreditam, vejam a foto ao lado. Onde iria eu buscar aquela expressão se não estivesse sempre angustiado ?
Bem, olhem : tentem ser felizes, não sejam parvos como eu !

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