terça-feira, março 23, 2004

AINDA SOBRE OS ISRAELITAS E OS PALESTINIANOS

Deixem-me dizer-vos, antes de mais, que este é terreno minado. Analisar e discutir esta questão exige o mesmo comportamento que é obrigatório ao atravessar um campo minado : é preciso ver muito bem onde se põem os pés... Mais ainda, é preciso ter a certeza de que não se está a reflectir segundo ideias preconcebidas, do tipo “eu defendo os palestinianos” ou “eu sou visceralmente pró-judeu”. Nada que se prenda com palestinianos e israelitas é simples ou puro. O sangue de vítimas inocentes provocadas pelos dois lados empapa as areias dos desertos naquela zona do Mundo.
A questão fundamental que se coloca é a seguinte : num conflito político internacional, num cenário onde as acções terroristas são usadas por um dos lados, é legítimo ou não abandonar o direito e passar a actuar como se de uma guerra clássica se tratasse ? Ou seja, em poucas palavras, seria legítimo abater friamente a tiro os autores dos atentados do 11 de Novembro, nos EUA, ou do 11 de Março em Espanha, ou os do IRA ou da ETA ?
A resposta parece ser simples, para quem acredite que a democracia é o melhor sistema político, e que devemos respeitar as suas normas até ao fim: NÃO, não é legítimo um procedimento assim.
Porém, não sejamos ingénuos : essa atitude não é seguida pelos terroristas, obviamente. Eles sabem que as democracias têm poucas defesas perante acções violentas organizadas, exactamente pela necessidade de respeitar os direitos individuais. Eles sabem isso e usam-o em seu proveito. Passeiam-se livremente no meio daqueles que irão atingir, usam sem pestanejar as suas liberdades, reclamam os seus direitos exigentemente em caso de prisão.
Que me conste, nunca nenhuma organização terrorista ouviu previamente em audiência representantes das pessoas no meio das quais se propõem fazer estoirar umas bombas, para conhecerem a sua opinião ...
Já pensaram que, caso o uso do terrorismo se intensifique muito, é natural que as democracias tenham que rever os seus conceitos e restringir o respeito pelas garantias individuais ? Perceberam que isso começou a acontecer, JÁ, nos EUA e mesmo na Europa ? Por muito que nos desagade a todos ! E sabem porquê ?
Porque finalmente nos apercebemos do horror que é o terrorismo organizado à escala internacional. Porque finalmente nos damos conta do que é o terrorismo. Porque deixou de ser uma coisa longínqua e improvável. Porque nos pode atingir amanhã e aqui.
Bom, é nessa situação que israelitas e árabes vivem, há muito tempo. Mesmo muito tempo. Não se esqueçam disso a próxima vez que começarem a arengar, no café ou no local de trabalho, sobre os mauzões dos israelitas e os bonzões dos palestinianos. Ou vice-versa.
Não queiram nunca ver-se metidos na teia de ódios e reacções primárias em que eles vivem há dezenas de anos.
Tentem perceber. Não para tolerar ou desculpar, mas para exigir que a situação termine. Não vejam de um lado vítimas e do outro carrascos. Quem são uns e outros ? Não serão todos uma coisa e outra ?
A verdade é que não sou capaz, intelectualmente, de chamar assassino a Sharon e apelidar cândida e ingenuamente Ahmed Yassine de líder espiritual do Hamas ... isso, para mim, é cinismo e sectarismo.
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Claro, a violência cresce em espiral : acabo de ler que o substituto de Yassine vai ser um homem ainda mais radical que ele, Al-Rantissi, que sempre se opôs a qualquer negociação com Israel ... meu Deus, que acham que vai acontecer ??
A paz no Médio-Oriente não é com certeza ...

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