terça-feira, setembro 25, 2012


A MENTIRA DA CRISE QUE VIVEMOS

Há uns anos atrás, poucos seriam capazes de prever o verdadeiro cataclismo que o poder financeiro viria provocar na Europa. Tudo parecia inofensivo, simpático. Os bancos viviam no paraíso, ganhando fortunas colossais com políticas agressivas de empréstimos para tudo e para todos. Casa, carro, estudos dos filhos, férias em locais exóticos, electrodomésticos, tudo o que desse dinheiro. Na bolsa, vendia-se tudo, tudo se comprava, sem qualquer relação com a solidez das empresas, apenas pelo jogo do compra a um, vende a dois. Conheci gente que não fazia mais nada que comprar e vender na bolsa, com grandes lucros, sem nada criar. Chegou-se ao ponto de vender hipóteses, na bolsa, nada real, apenas apostas quanto ao valor futuro de uma determinada coisa.
Coisas essenciais à vida de milhões de seres humanos, como os cereais ou o petróleo, são transaccionadas em bolsa todos os dias, por gente a quem essas mercadorias nada interessam, só pelas mais valias que delas podem retirar, depois de algumas manipulações dos mercados.
Este poder tremendo não cessa de crescer, apesar de alguns sobressaltos. Como um bulldozer, leva tudo atrás, política, partidos, democracia. Tudo é comprado, tudo é manipulado. Mesmo as próprias organizações "fechadas" como a Maçonaria foram invadidas, conquistadas, submetidas.
Que é que tudo isto tem a ver com a "nossa" crise ?
Bom, a verdade é que todo este esquema financeiro é insustentável, a prazo. Tudo isto exige compradores em número crescente, sem parar. Uma espécie de Dona Branca à escala planetária. Por isso, de vez em quando, é inevitável, ouve-se um grande estoiro : os bancos são apanhados com activos sem qualquer valor real, o cidadão comum verifica que tem dívidas enormes que não pode pagar, os Estados excedem os seus orçamentos de forma consistente, viciados na facilidade com que obtêm empréstimos internacionais com juros baixos.
O mundo financeiro, atento às oportunidades, atira-se aos empréstimos aos países mais fracos, exigindo juros loucos com que espera compensar as quebras recentes.
Tudo começa a desmoronar-se : na Europa, para fazer face a esta situação aflitiva, resolve-se fazer os povos pagar todos estes desacatos de bancos e governos. Quando deviam ser os agentes financeiros a ser punidos, obrigam os povos a tirar do seu bolso para dar a bancos e afins. Quando os governos deviam ser castigados ( só na Islândia tal sucedeu ! ) , são esses mesmos governos a ir tirar ao mesmo povo o que resta nos seus bolsos para alimentar os imparáveis défices orçamentais.
É a inversão cínica e hipócrita de toda a crise : castiga-se o povo por crimes que todo o sistema financeiro cometeu. Com a conivência dos governos. De direita e de pseudo-esquerda.
E é assim que se chega a esta virtude parva : a austeridade. Não para bancos, não para governos. Para o povo.
Há que cortar salários, benefícios sociais, reformas. Há que sacar dinheiro aos desgraçados para oferecer à Banca. Quando o povo, por pura exaustão financeira, deixa de comprar e, consequentemente, de pagar os impostos do consumo, os governos respondem ... com mais um saque aos bolsos dos contribuintes !
A Europa, neste desvario governativo e político, perdeu a noção das realidades, fala em austeridade quando o que se trata é de esbulho e roubo. Ainda por cima, roubo desculpado com falsas noções religiosas de culpa dos povos do sul, esses mandriões que só gastam e nada produzem.
É pois uma crise mentirosa : por norma, quem está a pagar a crise não tem a mínima responsabilidade nessa crise.
E é esta simples realidade que começa a chegar às ruas, num número crescente de pessoas. Milhares hoje, centenas de milhar, milhões amanhã, se os governos continuarem a "confundir" os responsáveis pela crise.
Estas coisas não costumam acabar bem, sabem ?

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