sexta-feira, janeiro 21, 2011

OS RESTOS DA DEMOCRACIA

Há 35 anos que nos andam a pedir que votemos. E nós votamos. Nestes e naqueles. Para a Presidência da República, para a Assembleia, para as Autarquias, para os clubes de futebol, para o condomínio, para as ordens profissionais, até para concursos televisivos. Nada se faz sem a adequada votação. E nós, obedientes, votamos. Dizem-nos : não fique em casa, participe, interesse-se, vá votar. E nós, emocionados, vamos. Sentimo-nos importantes, sentimo-nos ouvidos, sentimos que fazemos alguma coisa pelo nosso futuro.
Mas, amigos ... ( há sempre um mas, não há ? ), o que significa, no fundo, votar ? Trata-se de escolher, na essência, não é mesmo ? Escolher quem ? De quem gostamos ? Aquele que pensamos ser o melhor ? Melhor para nós ou melhor para todos ?
E depois, porque raio é que só posso escolher entre aqueles que me indicam numa lista ?
E lá vem a pergunta que vale 10 milhões de Euros : e quem é que escolheu aqueles que estão na lista ? Hem ? Não fomos nós, pois não ?
Dir-nos-ão : e como é que querias que fosse ? Seria impraticável, temos que primeiro formar partidos, depois cada partido escolhe os seus representantes e por aí adiante. Bom, está bem, então e depois que raio vêm pedir às pessoas ? Que ratifiquem as escolhas deles ? Eu, que nada tive a ver com a escolha do Sócrates, ou do Passos Coelhos, ou do Louçã, ou do Paulo Portas, agora vêm pedir-me que indique de qual deles gosto mais ? Interessante esquema este.
Dizem-nos também : bem, nós não votamos apenas em pessoas, votamos em programas, em coisas que eles prometem que vão ou não vão fazer ...
Palavra ? A sério ? Ainda alguém acreditará nessa balela ? Pelo menos em Portugal essa ideia está totalmente desacreditada, os eleitos NUNCA fazem aquilo que prometeram. Frequentemente, até fazem o oposto do que prometeram. E daí ? Pagam multa ? Os eleitores não gostam da gracinha e nunca mais votam neles ? Tá bem, tá, nada disso, é como se os eleitores tivessem todos perdido a memória, continuam a achar muita piadinha aos seus preferidos.
Por último : os nossos votos garantem um resultado final de qualidade ? Hummm, acho que vos leio a mente .... “nem por isso, nem por isso ...”. Pois é, a verdade é que também nunca ninguém disse que a democracia assegurava a qualidade das pessoas eleitas. Em qualquer grupo de pessoas, aquele ou aqueles que reunem a preferência dos demais para fazer algo quase nunca são os melhores para essa função. Com muita frequência, os melhores escondem-se, não querem chatices, ou não podem competir com o “paleio” ou o “marketing” dos “profissionais” ou não têm o apoio que aqueles têm por detrás. A democracia apenas assegura que a mediocridade final resultante foi escolhida pelo maior numero de pessoas. É assim uma espécie de máquina de legitimação de soluções sem qualidade ou mesmo completamente más. Ou então soluções que são boas ... mas não para todos os eleitores, só para muito poucos.
E cada vez é mais assim, à medida que as pré-escolhas antes das escolhas dos eleitores são cada vez mais influenciadas pela grande finança ou por grupos empresariais poderosos. Ou por lóbis ( que gaita, já nem sei escrever português ). Ou por isto ou aquilo. Se acham que exagero, olhem para os actuais políticos na Europa e interroguem-se como é que raio Berlusconi, Sarkosy ou a senhora Merkel chegaram onde estão.
Onde é que eu quero chegar ? É fácil, não quero chegar a lado nenhum. Apenas quero declarar alto e bom som que estou farto de votar e de não ver nada de bom em troca, mesmo quando ganham aqueles em que votei. Acho que a nossa democracia cheira mal. Tresanda, mesmo. E também acho que cada vez mais portugueses sentem esse cheiro. Ou é apenas desejo meu ?
O que é chato é que não tenho alternativas a apresentar e não gosto nada de ditaduras nem de iluminados. Mas que querem ? A nossa democracia não nos está sempre a impingir iluminados ? Agora mesmo temos dois, co’os diabos ! E tudo indica que vamos continuar com eles, não é ? Que m*, pá !

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