domingo, julho 29, 2012

TEXTO PARA VELHOS CÍNICOS OU COM DÚVIDAS ...

Nesta fase da minha vida, aos 69 anos, uma das minhas maiores dificuldades ou preocupações é conseguir situar-me neste tempo que vivemos.
Passo a vida a perguntar a mim mesmo : é a tua velhice a trabalhar, estás a ficar senil ou as coisas estão mesmo aparvalhadas e ninguém se entende ?
Não sei. Palavra que muitas das vezes não sei. É difícil distinguir fronteiras neste mundo confuso e confundido. Os valores éticos e morais de outros decénios evaporaram-se, novos valores são-nos impingidos todos os dias, as fronteiras entre a honestidade e o oportunismo quase não existem já ...
Cresci habituado à segurança de valores estabilizados e aceites por todos. Vivi coisas como a guerra, uma revolução, as mini-saias, os Beatles, Elvis Presley, os judeus, vítimas de Hitler e agora candidatos a algozes para com os palestinianos, a queda da União Soviética e do Muro de Berlim, e ainda antes disso a destruição quase total da minha fé pessoal no socialismo dos homens reais.
Vi como a sociedade elegia o consumo desenfreado como religião, como a tecnocracite propõe a compra de objectos estranhos que já ninguém sabe o que são ( telemóveis ? micro-computadores ? máquinas de jogos ? Máquinas fotográficas ? ), vi endeusarem pessoas a quem chamaram génios só porque se dedicaram a inventar essas brincadeiras caras e inúteis, vi e continuo a ver o centro do poder mundial deslocar-se da indústria para o mundo financeiro, paradigma de quem nada produz e mesmo assim cria riquezas incalculáveis sem nenhuma base real ...
Nestes últimos tempos, ainda por cima, quando as leis internas dessa economia mistificada e mistificadora anunciaram o desastre, vi como nos atiraram para os ombros a responsabilidade de resolver os problemas. A nós, que nada tínhamos contribuído para o descalabro.
Vivi independências de novas nações, vivi a perda da mesma independência por parte de outras nações ( como a nossa ), vivi grandezas, assisti a mentiras à escala mundial, com total impunidade, como foi o caso último da gripe das aves ...
Vivi o aparecimento do politicamente correcto, do medo à opinião diferente, assisti à força crescente e imparável da homosexualidade, como um direito de opção, para já, quem sabe como uma obrigação num futuro próximo :)
Ao longo de todos estes anos fui sendo testemunha do caminho inexorável do ser humano para a destruição, através da insustentabilidade do nosso meio ambiente. Gelos que derretem, correntes de água ao contrário, secas e cheias todas no mesmo saco, todas elas imprevisíveis, enquanto metade da comunidade científica e dos governos, a soldo das grandes multinacionais ou delas dependentes, continua a combater a ideia do sobreaquecimento.
Vi o aparecimento, no meu país, da chegada ao poder de jovens tão ambiciosos como ignorantes, cheios de auto-confiança ... e de comportamentos totalmente desastrosos para o País.
Pois é, amigos, para encurtar : vi, vivi ou assisti a tudo isto, impotente, muitas vezes com um enorme azedo na boca. Passei - passámos, nós, os mais velhos - por tudo isto, umas vezes feliz outras vezes inquieto e infeliz.
Mas a verdade, verdadinha, que o meu espírito cartesiano e a minha honestidade intelectual me mandam dizer, a verdade é que em relação à minha concordância ou discordância, com que cataloguei todas estas questões, não sei se é apenas a minha velhice a trabalhar, e o Mundo não vai assim tão mal como isso, ou se afinal andamos todos alegremente a dizer e a fazer parvoíces tremendas ... a destruir os nosso próprios alicerces e a produzir um animal qualquer apenas parecido com o homem.
Aceito opiniões. Ou mesmo dúvidas, como as minhas. Ou diferentes.

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