sexta-feira, julho 20, 2012

PORTUGAL A TROUXE-MOUXE

Já o disse antes, mas repito-o hoje : viver em Portugal cansa-me muito. Não é propriamente a terra que me cansa, são as pessoas e as suas atitudes.
Por acasos do nascimento e educação, sou uma pessoa que aprecia o rigor, a competência, o estudo dos problemas, a capacidade de decisão e de execução daquilo que se decide.
Abomino a incompetência, o chico-espertismo, o laxismo, a falta de vergonha, a vigarice. Lamento não estar mais "à la page" com o que é norma no nosso país, mas é assim que eu sou. Eu e muitos outros portugueses, eu sei.
Esta explicação é importante para que se perceba o meu cansaço actual de viver no meu país.
De facto, viver em Portugal, hoje, e tentando permanecer informado, é uma actividade quase masoquista, tal é a quantidade de novidades diárias totalmente arrasadoras para o meu "ego".
Não há apenas corrupção esporádica ou intermitente no meu país, o que parece é não haver outra coisa para além da corrupção. Em todos os níveis, em todas as vertentes e significados. Compadrio. Vantagens ilegais ou, se não ilegais, pelo menos não éticas. Defesa exagerada e excessiva dos interesses próprios - ou do partido - em detrimento da verdade ou do bem comum. Interesseirismo. Trafulhice, tentativas de negar coisas erradas que se fazem ou fizeram. Fugas à responsabilidade criminal, civil e sobretudo ética e moral. Sei lá que mais ...
Os julgamentos acabam quase sempre inconclusivos, sem ninguém condenado ( a não ser os desgraçados dos delitos comuns, claro ) ou, se o foram, sem nunca irem para a cadeia. O Ministério Público leva casos a julgamento, ou não, consoante as suas convicções pessoais e políticas. Ou então pelo que lê nos jornais, conforma declarações de hoje ao Diário de Notícias do Procurador-Geral, a propósito da famosa não-licenciatura. Os senhores deputados, os senhores banqueiros, emitem opiniões que ninguém lhes pediu e normalmente  bem reveladoras dos seus interesses pessoais ou de grupo. Por vezes disfarçadas com o bem da Nação, como um distinto banqueiro que afirma que a recente decisão do Tribunal Constitucional é "extremamente perigosa para o País". ( Claro que seria ainda mais perigosa se se tratasse de um novo imposto para a Banca ... ).
Bem vistas as coisas, vivemos num país em putrefacção, que começa a exalar um cheirinho bem desagradável.
Meu Deus, então na política governamental, as coisas são mesmo surrealistas. Vivemos uma espécie de santalopismo sem Santana Lopes, com a agravante de vivermos em crise e do senhor Primeiro Ministro se levar a sério e estar convencido de que sabe governar.
Patético.
À excepção do homem-contabilista das Finanças, todos os outros personagens me fazem lembrar os miúdos da minha rua, nos meus oito ou dez anos, a  jogar aos cobóis e aos índios, convencidos que  éramos os maiores do Ribatejo. Sabem tanto da governação e das necessidades do país como nós sabíamos de cobóis e índios. Tentávamos fazer caras convincentes, dizíamos coisas que pensávamos ser apropriadas, mas, no fundo, era tudo uma imensa brincadeira.
Tínhamos uma vantagem sobre o nosso Governo : as nossas brincadeiras não faziam mal a ninguém, excepto a algum cão ou gato vadio que fugiam aterrorizados das nossas setas e tiros.
Reparem só nesta, se ainda não ligaram ao assunto : o sr. Ministro da Educação ( e Ciência ??? ) produziu recentemente uma data de medidas sobre as nossas Escolas ( ver meu post anterior ), com a preocupação óbvia de reduzir horários e deixar de pagar a uma data  de professores.
Os efeitos foram catrastóficos, Escolas houve onde ficaram sem horários quase 1/3 dos professores ! O bom do sr. Ministro, alarmado com o excesso das suas medidas, apressou-se a divulgar uma catrefada de tarefas complementares que os professores sem horários atribuidos poderão desempenhar nas Escolas, evitando assim a catástrofe. Só que todas essas medidas apanham as Escolas com muita gente em férias, não há medidas concretas, vai ser um granel do caraças !
Nesta mesma altura, e decerto com as mesmas motivações, atira o sr Ministro cá para fora uma verdeira revolução no ensino profissional, metendo ao barulho os institutos de formação profissional, as escolas e as empresas. Prometendo mundos e fundos ( dinheiro, almoços e festas na cabeça, acho eu ) aos putos menores de 24 anos e com o 9º ano feito que queiram ir para esta via profissional.
Tudo bem, até concordo com a ideia. Mas esta ideia levará tempo a colocar no terreno, acho eu. O Ministro não acha, não faz a menor ideia do que é preciso fazer para pôr a funcionar uma coisa destas bem preparada. O Ministro acha que basta um comunicado de imprensa e que o resto é imediatamente feito pelas escolas e centros de formação. Quanto às empresas  ( modelo alemão, até nisto ) temos tempo para lhes perguntar se querem alinhar no modelo ...
E é assim, pessoal.
Afinal, lixar os mesmos do costume e abandalhar completamente um pequeno país até é fácil.
Não precisamos cá para nada do "engº" Sócrates, temos cá "drs" que sabem fazer isso na perfeição.

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