quinta-feira, novembro 13, 2008

UM POUCO MAIS DE COMPETÊNCIA, SRª MINISTRA !

Mas afinal como é que é esse tal malfadado sistema de avaliação que a ministra da educação quer impingir aos professores ?
Bom, vamos por partes. Não sei qual o conhecimento que o leitor tem destes sistemas. Por acaso, gastei quase três anos da minha vida profissional a estudar e mais tarde a desenvolver e a implementar um desses sistemas de avaliação, num sector também do Estado, ligado à Defesa. Penso que sei do que falo, ao contrário do juízo que faço quanto à equipa do ministério que “inventou” o sistema que tanta polémica tem dado.
Em esqueleto, um sistema de avaliação compõe-se de uma grelha de avaliação, onde os avaliados serão “encaixados”, e de um circuito de avaliação, constituído por pessoas ( os avaliadores, quem vai avaliar ) e por procedimentos.
A grelha de avaliação não é mais que um conjunto de factores de avaliação ( por exemplo, a assiduidade no trabalho, a capacidade de iniciativa, etc... ) , onde cada factor é bem caracterizado para evitar mal-entendidos e em que cada factor possui vários graus ( do tipo muito pouco, pouco, medianamente, bom e muito bom ) descritos em muito pormenor, para minorar as ambiguidades e subjectividades. Se possível, com caracterização quantitativa de cada grau, mas com muito cuidado. Os números, em muitas situações, só aparentemente são objectivos.
A grelha de avaliação é a pedra de toque de um determinado sistema de avaliação. É o elemento mais importante e absolutamente definidor da qualidade do sistema.
Não é preciso ir mais longe : no modelo do ministério, não existe uma grelha de avaliação. Impõem-se duas ou três coisas e o resto atira-se para as Escolas decidirem !!!
Brilhante ! Está-se mesmo a ver no que iria dar, não está ? Primeiro, numa carga de trabalho absolutamente monstra para os professores, ainda por cima não preparados nem sequer habilitados a identificar correctamente factores de avaliação e ou os seus graus. Depois, num universo de milhares de escolas, surgiriam certamente enormes diferenças na qualidade das grelhas e ainda mais nos seus graus, como se tornou bem patente, à medida que o processo evoluia.
Escolas houve que inventaram factores de avaliação como “Atitude o Professor quanto à aceitação das políticas educacionais do Ministério” ou ainda “Capacidade do Professor angariar apoios financeiros a entidades externas à escola”. Pérolas destas, sim.
E note-se, com os olhos arregalados, desta perfeita balbúrdia pretende-se obter resultados UNIVERSAIS, para valorizar as classificações profissionais dos professores !
Continuemos. Em factores tão difíceis de avaliar como a “performance” profissional, inventou-se a ideia peregrina de ligar a performance aos resultados dos alunos. Outra ideia luminosa. À primeira vista, até pode parecer correcta, a ideia, mas pensemos bem em todas as circunstâncias que concorrem para os resultados dos alunos e quantas dessas circunstâncias são externas e alheias aos professores. Então um professor com boas turmas seria sempre muito melhor que um com más turmas. A coisa é tão óbvia que tiveram que fazer entrar uma nova variável, ainda mais estranha a um processo de avaliação : é que a medida do sucesso ou insucesso ( ou seja os graus daquele factor ) são definidos em negociação de objectivos, entre o professor e o chefe de departamento e mais não sei quem. Ovo do Colombo, não ? Mas completamente rachado, diria eu. A universalidade de um factor de avaliação não pode tolerar graus que são definidos de forma diferente para cada professor, num universo tão variado como são as condições sócio-económicas das diferentes Escolas e a sorte ou “saber” do professor a identificar objectivos mais modestos e fáceis de atingir .
O factor nunca poderá ser “Resultados obtidos”, em meu entender, mas sim “Empenhamento e qualidade didáctica do Professor”, avaliado in situ pelos seus pares ou “superiores”.
Mas isto é elementar, até me chateia estar a escrever isto.
Bom, estão a ter uma ideia mais correcta da imensa balbúrdia nas Escolas ?
Então, lá vai outra. Para evitar a tendência que todos os sistemas de avaliação apresentam de nivelar os resultados lá em cima da escala ( e não por baixo como erradamente a ministra repete sempre ) , o ministério inventou quotas, para cada nível final classificativo. É uma Escola de muito bons professores, tudo gente com muita experiência ? Não interessa, só podem ser 3 “Excelente” e 10 “Muito Bons” … que se lixe o resto.
Bem,mas isto destrói TODA a objectividade da avaliação. Então todo o trabalho que andam a ter para isto, no fim ? Se essa é a preocupação, então qualquer sistema simples e puramente qualitativo, resultante apenas da observação das aulas, conduz a melhores resultados, com muito menos esforço. Se querem regular a ascensão nas carreiras, ponham as quotas nos lugares das carreiras ( vagas ), não na avaliação !
No final, de todo este sistema conceptualmente tão POBRE e tão complicado, na sua génese, como se pode pretender obter resultados universais ( apesar das quotas, apesar da falta de universalidade de factores e de critérios ) para majorar as classificações profissionais nacionais dos professores ?
Meu Deus, isto já não é uma questão política de se gostar ou não da ministra ou da política deste Governo do PS.
Isto é, pura e simplesmente, incompetência de toda a equipa ministerial.
Não tiro uma letra : INCOMPETÊNCIA !

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