quinta-feira, março 10, 2011

P de PÂNTANO não de PORTUGAL

A democracia está doente, é inegável. Os sintomas são muitos e fáceis de identificar. As causas são mais difíceis de perceber. Pensando um pouco, descobre-se rapidamente uma das grandes causas da doença : os cargos ditos de poder têm demasiadas benesses à sua volta e proporcionam excessivamente o livre arbítrio nas decisões. Ao contrário da teoria corrente que assim deve ser para se conseguir atrair os melhores para a governação da coisa pública, sustento que assim apenas se atraem os piores, aqueles que ficam seduzidos por essas benesses e potencialidades e que se estão nas tintas para a coisa pública.
Se toda a vida pública fosse envolvida num ascetismo apropriado, para além de se gastar muito menos, tornar-se-ia pouco atraente e compensador criar verdadeiras organizações de treino da conquista do poder, como são hoje os partidos políticos e as claques imensas que os rodeiam. Não fosse o saque tão atraente e os cruzados vindos do norte da Europa não teriam alinhado com D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos mouros. O mesmo se passaria na política, apenas os legitimamente interessados ( porque sempre existem ) no País e na coisa pública se incomodariam a concorrer aos cargos públicos.
Mas não é assim que as coisas se passam, como sabemos. Os cargos públicos estão rodeados de mordomias e representam uma oportunidade unica de conseguir grandes negociatas, de outra forma impossíveis. A abertura ao investimento privado de áreas como a saúde ou a educação ( e porque não também a justiça e a defesa ? ) são um exemplo das motivações ultimas de muita gente que pretende chegar ao poder.
Gerir a coisa pública é uma coisa, tornar privada a coisa pública é outra. Mas é esta última que dá muito dinheiro para alguns, como se sabe.
Na sociedade actual a conspurcação dos grandes valores e principios é tal que há pessoas a reclamar títulos de campeões da honestidade mesmo depois de ser publico que obtiveram mais valias que ninguém sem certos amigos poderia jamais obter. Ou quando se conhecem manobras para colocar os filhos em bons lugares. Não me interessa se algumas dessas pessoas foram ou são presidentes da república, já nem sequer esse cargo é sinónimo de isenção total. Desde Eanes que assim é, Eanes foi o último dos grandes defensores dos princípios.
Quem conheça a realidade destes meios da política em Portugal – eu conheci alguma coisa – vai engolir muitos sapos pela certa, se partir embuído de uma ideia de virtude e de grandeza moral. Não é que não existam homens e mulheres bons, mas como sempre o que conta é o pano de fundo, é a matriz onde todas as coisas se inscrevem .... E esse pano de fundo, acreditem, é uma completa vergonha : nepotismo, favoritismo de todas as espécies, partidarismo, amiguismo, favores retribuidos ... Sem qualquer remorso ou réstea de vergonha. Aparentemente, já sem sequer a noção de que é errado fazer as coisas desta maneira.
Neste meio, não há grandes diferenças partidárias, a não ser para os grandes cargos/tachos. De resto, o núcleo central dos amigos funciona sempre, sejam quem forem os detentores do poder. Neste contexto, os bons, os realmente qualificados só por acaso conseguem lugares compatíveis.
Desta realidade pouca gente fala. Pouca gente pode falar contra isto. Mas acreditem-me, sem alterar este IMENSO PÂNTANO nada se fará neste infeliz País.

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