terça-feira, setembro 30, 2003

BEMVINDA, CHUVA !
Nos ultimos anos Portugal tornou-se um país de adoradores do sol. Não era assim, sabem ? Ninguém se ralava muito com bronzes há uns anitos atrás : o Algarve era apenas uma região longínqua, onde havia amendoeiras, figueiras e burros, as praias “in” eram Cascais, a Praia das Maçãs, S. Martinho do Porto, a Figueira, a Póvoa do Varzim e mais umas quantas e ir para banhos estava ao alcance apenas de algumas famílias privilegiadas e de gosto mais apurado para as neblinas matinais e odores a algas.
Depois ... a paixão ( não sei se pela praia se pelo sol ) arrebatou os portugueses, toda a gente se precipita, logo em Abril ou Maio, para um pedaço de areia ou rocha com vista para o mar e serventia de sol, que nunca é cedo demais para ostentar aqueles tons doirados que tão bem ficam com a roupa clara ou com a ausência dela ...
Ai daqueles que não o fazem e se arriscam a passear, pálidos linguados, no meio dos e das morenaças pavoneantes !

Pois, mas eu hoje queria remar contra esta maré.
Queria fazer o elogio da chuva.
Co’os diabos, porque há-de o sol ser sempre a divindade intocável e a chuva a deusa menor ?
Porque havemos de aliar o conceito de “bom tempo” sempre ao sol, mesmo quando as temperaturas roçam os 40ºC e ninguém consegue respirar ?
Hoje, apetece-me dizer : bemvinda, chuva. A chuva tem os seus encantos.
Gosto de passear à chuva, ( debaixo de um chapéu, não exageremos ) e ver os pequenos regatos de água a formarem-se nas ruas, embora já não veja os barquitos de papel que eu e os outros putos costumávamos fazer.
Gosto do cheiro da terra molhada, depois de uma chuvada, coisa que não sinto há anos, nesta Lisboa asfaltada e desumanizada.
A água lava, também, pavimentos, telhados, colinas queimadas e almas.
Gosto de chuva. Moderada, não muito gelada, civilizada, comportada.
Até logo, sol. Também gosto de ti, não fiques triste, ehehehe ...
Bemvinda, chuva.

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