domingo, setembro 21, 2003

Ah, a Educação ....

Nos ultimos 30 anos a Educação foi o sector da vida nacional onde mais numerosas foram as mudanças, as experiências, as opiniões e, já agora, os fracassos. A cada novo Governo, ou até dentro do mesmo Governo, a cada Ministro, a cada Secretário/a de Estado, uma nova filosofia, um novo conjunto de certezas, um novo e normalmente complicado amontoado de regras, programas, procedimentos e afirmações solenes.
Naturalmente, tempos depois, de todas estas intenções salvavam-se alguns destroços apenas, que nisto de mudança os portugueses são bem melhores a avaliarem e a proporem soluções que de facto a executá-las. Como todos sabemos, de resto.
Mas mesmo nas propostas de soluções, não resisto a comentar algumas que li na edição de hoje do PÚBLICO, da autoria de António Barreto. Porque me parecem bem paradigmáticas do que somos nós, os portugueses, quanto a questões práticas.
Digo desde já que tenho admiração e respeito pessoal por António Barreto, cujos escritos e opiniões acompanho há anos. Tenho-o por pessoa séria, sensata e muito lúcida. Pois bem, vejam como até uma pessoa destas se perde em atoleiros terríveis, quando de soluções concretas se fala.
A questão prende-se com o funcionamento das Escolas do Ensino Básico e Secundário, para as quais António Barreto há muito tempo preconiza a sua "entrega" á gestão das autarquias locais, incluindo no domínio da contratação dos professores.
Meu Deus, um espanto !
Percebe-se ( eu percebo ) as razões que levam o autor a ter esta ideia : a falência do modelo actual, o descrédito na actuação e competência do Ministério, do poder central. OK, convenhamos que não lhe faltam argumentos de peso. Porém.... as autarquias, meu Deus ? As autarquias ?
Quem conhece um pouco deste nosso país ( e A.B. não pode invocar ignorância, ele que tão bem já o retratou em termos sociológicos ) não ignora que, se o poder central é muitas vezes incompetente e desinteressado, o poder autárquico é a maior anedota deste país, se pensarmos em idoneidade ao serviço das causas públicas e em profissionalismo e independência na abordagem dos problemas !
Qualquer municipe conhece esta realidade deprimente do nosso país. Não preciso sequer de falar em corrupção. Falo apenas de incompetência, do ridículo, da pequenez ( com z ?? ), dos joguinhos de interesses locais .... lembram-se da recente praga das rotundas ? E dos conjuntos pseudo artísticos no meio delas ? E das lombas nas ruas ? E das relações dom os construtores civis ? E dos andares que misteriosamente aparecem inscritos nas Conservatórias em nome de familiares dos eleitos locais ? Eheheh !!!
Quer então António Barreto convencer-se e convencer-nos que as Escolas teriam a ganhar em ser geridas pelas autarquias ? Só se fosse para construirem mais umas quantas rotundas no interior das mesmas, obrigando alunos e professores a contornar uma estátuazinha de um homem com um cavalo ou um toiro ou uma charrua ou qq outro utensílio ..... Não se admirasse que a Autarquia vendesse o terreno da Escola para uma qualquer urbanização luxuosa, tipo condomínio fechado, transferindo a mesma Escola para a periferia, onde haveria muito mais espaço disponível para as actividades de ar livre dos alunos !
E que dizer da contratação de professores ?? Como seria ? Com os mesmos critérios que muitas autarquias contratam os seus funcionários e funcionárias ? Por serem primas afastadas do Presidente da Câmara ou do Vereador da Cultura ??
António Barreto é um homem inteligente. Como raio pode pensar sequer numa hipótese destas ? Está assim tão descrente do poder central que já acha esta realidade das autarquias locais ( que ele não ignora ) melhor que a inépcia central ? Enfim ....
O desespero da incompetência colectiva no nosso País leva-nos, sem dúvida, a uma certa forma de loucura ...

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