sexta-feira, setembro 26, 2003

AS PONTES E AS CRENÇAS
Quando era miúdo, tinha da maior parte dos adultos uma ideia reverencial : eram pessoas a quem eu respeitava porque sabiam muitas coisas, resolviam os problemas todos e eram quase infalíveis. Provavelmente, esta ideia era partilhada por muitos outros putos, não devia ser eu o único tontinho ...
Foi das maiores desilusões do meu crescimento ver que nada disto era verdade. Ou que apenas era verdade numa escala muito pequenina. Os meus heróis não existiam, a maior parte dos crescidos interessavam-se muito pouco pelo saber ou pela ética profissional ( e mais por outros valores ... ), outros eram pura e simplesmente incompetentes, os poucos que eram esforçados e sabedores eram limitados pelo estado de (sub)desenvolvimento do saber nas suas áreas de intervenção ...
É assim, claro : crescer é ter desilusões, é ver morrer mitos confortáveis, é perceber as limitações do ser humano.
Nada disto me preparou, contudo, para perceber a essência da nossa maneira de ser ( dos portugueses ). Esses sempre me pareceram empenhados em demonstrar o oposto do meu sonho de criança : não é fácil compreender e aceitar tanta lassidão e laxismo, esta espécie de indolência colectiva, sabiamente temperada com a irresponsabilidade permanente.
Os portugueses fizeram uma arte da discussão permanente dos problemas e .... da fuga á sua solução !
Só nunca entendi o porquê, já que em muitos casos seria muito mais cómodo resolvê-los e voltar depois ao dolce fare niente do costume ... Enfim, mistérios !
Vem tudo isto a propósito das não sei quantas pontes que estão inseguras ( 119 ? ) ou mesmo perigosas ( 41 ?? ) no nosso país, segundo uma lista divulgada pelo Correio da Manhã e que o IEP ( Instituto das Estradas de Portugal ) diz que não foi elaborada por eles ...

Mas então ainda pensam que, em Portugal, há alguém que se sente responsável pelas pontes e passa a vida a inspeccioná-las, cheio de carinho pela vida dos portugueses ? Ahhhh, pensam que é assim ?
Se pensam isso, são tão tontinhos como eu era ...... em Portugal, as coisas não precisam de ser inspeccionadas, duram enquanto durarem e, quando cairem, logo se vê.
Quem teria pachorra para andar por aí a olhar para as pontes ? Era o que faltava !
Para além disso, seria muito caro e exigiria uma data de engenheiros de pontes e essa malta não é muito de ser engenheiro do Estado ....
Como solução, sugiro que esse trabalho, da verificação do estado de segurança das pontes, seja adjudicado a uma empresa civil, mediante contrato, claro. Assim, sim, sempre haveria umas notas pelo meio para motivar e alegrar a rapaziada !

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