quarta-feira, março 16, 2005

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O RASGO NO NEVOEIRO
Há assim momentos, como o de hoje, em que o denso nevoeiro se abre um pouco e consigo vislumbrar vultos, movimento, até cores, do outro lado da estrada. Pouco interessa conhecer os detalhes, acho que tu vais entender. Na tua vida já também aconteceram episódios destes : de repente, tudo parece possível, até mesmo aquela fatia de luz, cor e calor pela qual anseias há tanto tempo. Mas tem cuidado, é preciso aproveitar a aberta, atravessa o nevoeiro enquanto ele não se refaz e recobre de novo o buraco. Não hesites, estas oportunidades não se compadecem com medos, tibiezas ou duvidas exageradas. É preciso estar pronto para saltar, como se a tua vida disso dependesse. E depende, acredita.
Por mim, estou farto deste nevoeiro cinzento, húmido e opaco que me cerca há algum tempo. As coisas à minha volta perdem o contorno, esbatem-se, ficam reduzidas a uma massa informe e incolor. Asfixio. Esbracejo. Grito por vezes. Outras vezes vivo conformado e triste. A maior parte do tempo, finjo que sou homem, mas no fundo sou uma espécie de plasticina cinzenta que já nem sequer se cola a nada. Na verdade, tenho tido medo, algumas vezes, de atravessar o buraco no nevoeiro.
Hoje vai ser diferente. Hoje não há nevoeiro que me impeça de ver a verdade. Vou saltar pelo rasgo que se abriu, mesmo sem saber bem onde ele me leva.
Também, que tenho a perder ? Pior que este vazio não é de certeza.
Desculpem, tenho de ir, vou tentar a minha sorte ... ooooooops ....

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