segunda-feira, julho 05, 2004

IDEIAS EM CONTRAMÃO

De repente, a ideia atinge-me como um clarão : a morte de alguém querido é muito mais penosa para os que ficam que para aquele que se finou. Se isto for verdade, a minha verdadeira morte está a acontecer agora, antes da outra, a biológica. Sinto a falta de pessoas que sempre me rodearam e eu admirei. Pessoas que eram parte do meu pequeno mundo. Pessoas de que ainda guardo o sorriso, o cheiro, o som das palavras.
Se isto é assim, morre-se aos poucos, lentamente, até já pouco restar que nos prenda á vida.
E, como todas as dívidas que não se pagam a pronto, morremos pagando juros e amortizações, morremos mais do que devíamos, muito mais.
A longo prazo, acabamos por morrer duas ou três vezes.
Por outro lado, a dor vem gradualmente, vamo-nos habituando a ela, insidiosamente, quase sem darmos por isso. Um mês fazemos um pagamento, no mês seguinte dois, lá vem depois um mês onde somos dispensados da prestação.
A morte financiada a prazo com prestações suaves.
Suaves ... mas mortíferas, não se esqueçam.

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