segunda-feira, dezembro 03, 2012

OS EQUILIBRISTAS E OS VIGARISTAS

Em Portugal só há dois tipos de pessoas : os equilibristas e os vigaristas. Não estou nada a exagerar, é só pensarem um bocado. Aqueles que não querem ser vigaristas e não aguentam ser equilibristas, emigram, vão para outros ares onde não os obriguem a esta escolha difícil.
Deixemos de lado os vigaristas, categoria que todos conhecemos e que não exige grandes caracterizações.
Vejamos a grande maioria dos outros, os equilibristas. Gente que desde que nasceu sempre precisou, em maior ou menor grau, de se equilibrar perante os obstáculos da vida. Gente que teve que resistir a coisas como a ditadura, a guerra de África, os desmandos e as ansiedades da revolução, as tropelias sem conta de muitos e desvairados governos. Hoje inventa um novo imposto, amanhã cria um novo procedimento, obriga a usar a internet a pessoas que nem sequer sabem escrever uma carta. Os bancos telefonam hoje para casa a oferecer um grande crédito, amanhã dizem-nos que estamos em crise porque gastámos mais do que produzimos. Ontem, a Europa achava que nos devíamos dedicar ao turismo e dava-nos rios de dinheiro para não cultivar, não pescar, vender a industria. Hoje, dizem-nos que estamos falidos, levam-nos juros agiotas pelo dinheiro que nos emprestam, torcem o nariz à nossa falta de produtividade.
As leis, os orçamentos, mudam, remudam, retorcem-se, distorcem-se, andam para ali, andam para aqui. Em Portugal sempre se confundiu mudar a realidade com produzir leis. Somos talvez os maiores produtores mundiais de legislação, ela é tanta que já ninguém sabe ao certo que leis é que existem e qual foi a finalidade das mesmas. Fazem-se leis e dois dias depois fazem-se alterações às mesmas leis. Desconfio que já foram produzidas alterações a leis que nem sequer ainda existiam.
Já vivemos épocas de crescimento, de optimismo. Milhares de autoestradas. Grandes Centros Culturais. Magnificos terminais de passageiros e carga em pistas ( Beja, lembram-se ? ) onde nunca iriam aterrar e descolar aviões, a não ser os militares. Inundámos o país de geradores eólicos de electricidade, especialistas de produção de energia eléctrica quando estamos todos a dormir, sem precisar dela. Inventámos computadores parvos que distribuimos pelos putos todos, sem qualquer ganho visível. A não ser alguns que foram parar à Feira da Ladra. Tudo ilusório, meus senhores, quanto mais olham menos vêem...
De quando em quando, com uma periodicidade assustadora, chamamos o FMI porque já não sabemos para onde nos virar. Aí, inevitávelmente, arranjamos forma de ir buscar aos bolsos do Zé Povinho o dinheiro que os nossos políticos desbarataram ou os nossos bancos perderam, em investimentos ruinosos. Aí começamos a teorizar sobre a baixa produtividade dos trabalhadores portugueses, os elevados custos da mão de obra, que é preciso baixar, e também sobre essa gentalha dos funcionários públicos, que são imensos e ganham que se fartam. Pouco importa que tenham sido eles, os aprendizes de feiticeiro, a engrossar desmedidamente as fileiras dos funcionários públicos, salários acima das tabelas, com familiares, amigos, filhos, sobrinhos e afilhadas. Isso é omitido, ninguém sabe de nada, pá, quem ? nós não fomos ...
Este país é uma anedota pegada, meus senhores. Nós a suportar tudo isto, a trabalhar, a pagar, e os senhores ainda por cima a chamar-nos nomes feios.
Ainda acham que não somos equilibristas ? E dos bons, caramba, daqueles ( como na imagem ) que não precisam de vara de balanço nem de cabos de segurança.
Pelo meu lado, que estou velho, ando-me a equilibrar há mais de 65 anos, caramba !!!
E sem ver fim ao espectáculo, o que é o pior.

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