quinta-feira, dezembro 09, 2010

A CEGUEIRA DE CERTA ESQUERDA

Quem me costuma ler sabe muito bem que a minha forma de ver o mundo é alicerçada no respeito pelo trabalho do ser humano e na recusa de entregar todo o poder aos ricos e poderosos. Uma visão de esquerda, tal como sempre entendi a esquerda. Contudo, quando tal se impõe, também gosto de fazer a minha crítica aos comportamentos de sectores políticos de certa esquerda ( ou extrema esquerda, para alguns ) portuguesa.
Isto ainda a propósito daquilo a que chamei de confusões de César, quanto ao tira e repõe do corte nos vencimentos dos funcionários públicos nos Açores.
A medida de César é obviamente eleitoral e desajeitada. Fez aquilo que é quase impossível, que é colocar todo o País do mesmo lado da barreira.
Pois bem, ainda assim, tanto o PCP como o BE vieram dizer que acham muito bem o que César fez, o que eles acham mal são os cortes que o Governo decidiu.
Aqui têm mais uma limitação da vida partidária. Tremenda. A incapacidade de olhar a realidade nas suas complexas nuances. A obrigatoriedade de pensar segundo cartilhas, baias, espartilhos. A suprema ironia da mais absoluta falta de lógica, quando se proclama combater a injustiça.
O argumento destes partidos é este : já que não concordamos com a medida do corte, então que se lixe a falta de equidade, o que é preciso é que alguns não sofram os tais cortes. Como se César, em vez de eleitoralismo, tivesse vestido a capa do Zorro e começasse a corrigir à espadeirada as cretinices do Governo central.
Não, meus senhores, os partidos e as opiniões partidárias não são soberanas e muitas vezes nem sequer são importantes. Para além dos partidos, de qualquer partido, existem principios de vida social. A ideologia e ainda menos a prática política não podem esquecer-se nem afastar-se da ética. Nem da igualdade de direitos. Nem de muitas outras coisas.
É por estas e outras que nunca consegui sentir-me de nenhum partido, nem de nenhum clube de futebol. Prefiro, sempre preferi, a lucidez e a liberdade de pensamento à emoção, às bandeiras e ao sentimento de pertença.
Feitios.
E fiquem-se com esta, senhores pseudo representantes políticos dos trabalhadores e afins : essa gente que dizem representar NÃO GOSTOU daquela coisa nos Açores. Acreditem em mim. Ou não acreditem e, em vez de pensarem que sabem avaliar o que as pessoas sentem, perguntem-lhes se gostaram ou não de saber que os cortes são só para eles e que a malta dos Açores se vai baldar ...

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