terça-feira, março 04, 2008

A AVALIAÇÃO DE PROFESSORES E OS APRENDIZES DE FEITICEIRO

Paula é professora de Matemática do Ensino Secundário. Jovem ainda, vai nos seus 35 anos e quase 12 de profissão. É uma professora devotada, prepara as suas aulas, elabora os seus testes com todo o cuidado. É também exigente, acredita nas virtudes do trabalho, passa TPC, corrige-os sempre e procura dar o máximo apoio aos seus alunos. Alguns, porém, por atrasos impossíveis de recuperar, outros por nítida falta de esforço e trabalho, ficam-se pelas notas fraquinhas,muito fraquinhas, mesmo.
Paula é mãe de 2 filhos ainda pequenos e, ocasionalmente, tem que faltar para dar apoio aos filhos, embora se esforce para compensar o tempo perdido e acabe sempre por cumprir as metas do programa. Não é muito comunicativa, a nossa Paula, e apesar de ter algumas amigas, prefere dar as suas aulas e , após isso, isolar-se na preparação das aulas seguintes, a ver testes, etc ... Paula é uma mulher-lider, não obstante a sua idade, criando sempre um ambiente de respeito na sua sala de aulas, embora onde talvez se respire um pouco de tensão reprimida.
A Escola da Paula desenvolveu dois grupos distintos de grelhas de avaliação. Dois conjuntos de factores.
O primeiro usa os seguintes factores : planeamento das aulas, assiduidade, ligação á comunidade, resultados na progressão dos alunos e capacidade de empatia na sala de aula.
O outro escolheu planeamento das aulas, cumprimento do programa, adesão ás iniciativas extra-curriculares da Escola, resultados na progressão dos alunos e capacidade de liderança na sala de aulas. Todos os factores têm igual peso e uma escala de valores de 1 a 10.
Vejamos como foi ( ou podia ter sido ) avaliada a Paula.


Num caso, a Paula teria uma boa avaliação, enquanto que no outro a avaliação seria para o fraquito.
Qual seria a diferença ? A Paula é a mesma, o seu trabalho é o mesmo, os avaliadores até teriam sido os mesmos ... então ?
A grelha de avaliação NÃO foi a mesma !!!! E a "habilidade" da Paula na escolha dos objectivos também não foi a mesma ...
AH, CLARO, A GRELHA DE AVALIAÇÃO ... pois é, é apenas o factor mais importante e decisivo de qualquer sistema de avaliação. Também é o mais complexo e dificil de escolher. Andei envolvido num projecto de sistema de avaliação em que esse trabalho nos levou cerca de ano e meio !!!
Então agora PASME-SE : A GRELHA DE AVALIAÇÃO FOI REMETIDA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO PARA TRABALHO DAS ESCOLAS .... a fazer em algumas poucas semanas !!!
Assim mesmo : as Escolas que façam esse trabalho. Mesmo sem perceberem nada de avaliação e dos multiplos cuidados a ter no desnvolvimento de uma grelha de avaliação. As Escolas que escolham umas quantas de uma lista fornecida ...
Claro que não vão existir duas grelhas iguais. Claro que estará á partida comprometida a equidade no tratamento dos professores. Claro que só por acaso é que surgirão grelhas boas nas Escolas ... o Ministério da Educação fugiu do trabalho mais complicado, mais delicado e que mais controvérsia poderia suscitar.
Para mim, ao atirar esta responsabilidade para as Escolas, tirou coerência, credibilidade e mais do que isso, LEGITIMIDADE, a todo o Projecto.
A avaliação de Professores NUNCA deverá avançar nestes moldes, por estar ferida de morte na sua concepção inicial.
Nunca deve ser tarde demais para tornar boa uma coisa má.
Ou é mais importante que a Srª Ministra e o Sr. Primeiro-Ministro não percam a face ?

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