terça-feira, junho 03, 2008

MITOS E MENTIRAS

Os hábitos actuais de vida e de comunicação em sociedade estão completamente cheios de meias-verdades, falsidades, lugares comuns e mitos. Não conheço o panorama dos outros países europeus, mas quanto a nós, nunca imaginei que se pudesse DESCER tanto na escala da qualidade.
Querem ver algumas preciosidades ?

- O mito das médias europeias. ( a má estatística como mentira ao serviço da ilusão )
Nos ultimos tempos, em tudo o que é meios de informação e sobretudo a nível do discurso laudatório do Governo, são usadas todos os dias comparações dos preços praticados em Portugal com as médias europeias. Ah, a gasolina não é das mais caras da Europa ... afinal é só 20 e poucos cêntimos mais cara que em Espanha.
Os bens alimentares não subiram tanto em Portugal como no resto da Europa.
Um bilhete de cinema em Portugal não é caro, é igual ao de Paris ...
E por aí fora.
Quem usa estes indicadores está a fazer passar gato por lebre, está a querer enganar os portugueses. São mentiras ! São balelas ! A gasolina em Portugal para estar ao mesmo preço da França ou da Alemanha teria de ser MUITO mais barata ! Não me interessa o valor absoluto dos preços, interessa-me sim o esforço financeiro que tenho de fazer para comprar essas coisas, com os salários portugueses. Os preços não deviam ser comparados em valor absoluto mas sim corrigidos em função dos índices de poder de compra !
Assim, não vale !

- O mito do populismo. ( a tentativa de calar a verdade pelo agitar de um chavão )
Os gestores portugueses das grandes empresas ( sector privado e do Estado ) auferem vencimentos totalmente desproporcionados aos dos restantes sectores da vida nacional ? Populismo ... populistas é o que estes gajos sabem ser ! Que é que queriam ? Que deixássemos fugir os melhores gestores ? Que lhes oferecessemos tuta e meia ?
A sociedade portuguesa é das mais desequilibradas da Europa, as diferenças são colossais entre sectores populacionais ? Lá vem o Paulinho das Feiras outra vez ... que querias tu ? Que alinhassemos pelo cavador alentejano ? Ai estes populistas !


- O mito da responsabilização indevida ( a tentativa de evitar vozes críticas )
Então o gajo é do nosso Partido e nada pr’aí a dizer umas coisas contra o nosso Governo ? Eh pá, o gajo é indecente, é um irresponsável. Há que estarmos unidos nesta fase dificil. Temos a razão do nosso lado, não endireitamos aquela coisa do déficit ? Que mais queriam estes gajos ?

- O mito do défice público. ( a grande desculpa do neo-liberalismo bacoco )
Provavelmente, este é o maior dos actuais mitos. Lembro-me de que,com Cavaco, na época do “betão” das autoestradas, o défice chegou a ser de 9%. Era preciso investir, andar para a frente. Era o chamado défice virtuoso.
Depois, o Euro veio impor o limite máximo anual de 3%, para que a solidez da moeda fosse constante e credível. Agora, só por causa disso, inventou-se a teoria económica da bondade do défice pequeno ou nulo. Já não há défices virtuosos, todas as medidas são boas para atingir os 3% ou menos. É preciso baixar os rendimentos do trabalho dos funcionários públicos ? Baixem-se. É preciso cortar nos custos da defesa e da segurança interna ? Corte-se, os gajos que andem menos de carro e de avião e de navio ! É preciso estrangular os profs ? Fechar umas maternidades e centros de saúde ? Faça-se !
O importante é o défice pequeno, mesmo que já não exista povo para o admirar !

-O mito da indispensabilidade dos partidos políticos. ( ai que vou levar dos democratas todos ... )
Os partidos políticos são indispensáveis à democracia, sem eles seria o populismo, o caudilhismo, a anarquia. Sim, está bem, aceito que tenham um papel importante na sociedade.
Mas não estes que temos.
Estes que temos são uma merda, desculpem. Repositórios dos piores tiques da nossa vida actual. Inchados e putrefactos de carreirismo, de nepotismo, de oportunismo. Vi-os nascer e hoje não são uma sombra do que já foram. Nunca foram organizações isentas de mácula, claro, mas hoje ...
Estão tão desacreditados, hoje, os partidos políticos que sempre que algum dos seus líderes locais é impedido de concorrer a eleições em nome desse partido, por motivos de ética política ou moral ... acaba por ser eleito como independente. Lembram-se do Major, da Fátinha, do Isaltino ? Pois é ... Os partidos mentiram e aldrabaram tantas vezes os portugueses que agora já não adianta, já ninguém acredita neles, mesmo quando têm razão.

Poderia continuar ad-infinitum. Mas já estou cansado, é muito deprimente escrever sobre estes temas. Deprimente ... e populista !

Sem comentários:

Enviar um comentário