sexta-feira, junho 20, 2008

A DESGRAÇA DA CLASSE MÉDIA

Nos ultimos anos, quando se fala em políticas sociais, tornou-se moda virar a atenção exclusivamente para “os mais desfavorecidos” ou para “os sectores mais vulneráveis”. Á partida, parece uma boa ideia, os ricos não têm problemas e os assim-assim podem bem com esta ou aquela subida de preços.
Oferecem-se rendimentos mínimos a quem pouco tem, garantem-se subidas nas pensões abaixo de um certo valor, beneficiam-se os juros de quem tem rendimentos abaixo de um certo limiar, oferecem-se benefícios aos pescadores, depois aos camionistas, em breve aos taxistas, sei lá a quem mais ...
Parece tudo justo, não parece ?
Mas é um jogo perigoso. Quem define as fronteiras ? Quem decreta “tu precisas, tu não precisas” ? Que espécie de justiça é esta que exclui milhões de pessoas, pressupondo á partida que estão e ficam bem, que podem suportar os custos ?
De há muito que sucessivos governos brincam aos robins dos bosques, mas este então tem sido fértil nesta perigosas e demagógicas políticas pseudo-sociais.
A verdade é que os estratos populacionais ditos da classe média estão cada vez mais empobrecidos, cada vez mais esquecidos. A verdade é que esta forma de olhar a sociedade é falsa e, no nosso caso, apenas proporcionou cobertura política a um desenfreado processo de sobre-enriquecimento das classes médias-altas e altas. Como contraponto político, como que para fazer esquecer o “gamanço” desavergonhado, lá vinha o interesse pelos “mais desfavorecidos”. Reparem bem, por exemplo, como Sócrates se defende quando o criticam por governar á direita ... Lá salta o complemento ás pensões mais miseráveis, lá aparece o abono de família, etc ...
Rejeito uma política social feita de migalhas, feita de mentiras, onde os muito pobres são apenas mantidos no limiar da fome e toda a outra gente da classe média é esbulhada em nome do sobre-enriquecimento dos poderosos.
Chega de mentiras e de hipocrisia. Chega de roubos, é isso que tem acontecido.
Quero uma sociedade onde todos possam ter dignidade, onde todos possam ter uma vida razoável, onde os imensos lucros das petrolíferas sejam taxados e essas taxas sejam colocadas ao serviço de todos e não só de pescadores, taxistas e camionistas.
Chega, estou farto de ser considerado como condenado a estiolar e a esperar que acabe por ser considerado, no fim da minha vida, como “sector mais desfavorecido” ...
Que é, afinal, o que nos espera a todos se não quebramos esta política anti-classe média, levada a cabo por aprendizes de feiticeiro ao serviço dos grandes interesses.