sábado, junho 28, 2008

ENVELHECER NUM MUNDO DECRÉPITO

Faço hoje 65 anos. Não faço ideia nenhuma como aconteceu isto, não me lembro de nada, ainda ontem andava no Liceu. Se querem saber, acho que isto é um sonho, ou melhor, um pesadelo. Quando acordar, tudo estará na mesma e eu terei 40 e tal anos, se tanto.Pode lá ser, tantos anos, sessenta e cinco ! Se for verdade, é uma grande injustiça. Que chatice, ainda por cima sou obrigado a festejar. Festejar ?? O quê ? Ter chegado aqui e não ter morrido antes ? Mas isso deve ser festejado ? O que há para festejar, esta minha idade é a velhice, a idade em que ficamos transparentes, até as mulheres nos sorriem e tudo, dizendo com os olhos que velhote simpático ... Mas há mais, muito mais.Chega um homem a esta idade e o que vê ? Um mundo bonito, feliz, onde se possa descansar tranquilamente e deixar a velhice entrar em nós ?Não, o que vejo á minha volta é um mundo doido, desgovernado, um mundo em regime de pilhagem acelerada.O petróleo nos 140 dólares, 71% das ordens diárias de compra são especulativas e todos encolhem os ombros; o Oceano Ártico em degelo acelerado, teme-se que este Verão se derreta a fina camada de gelo sobre as suas águas e ninguém faz nada ; a Siemens diz que vai despedir 15.000 pessoas e todos pensam "não é nada comigo" ; no Zimbabué, o ditadorzeco faz o que quer, corre com a oposição vencedora e a ONU nem sequer um papel consegue escrever ...Aparentemente, ninguém, nenhum Governo, nenhuma organização pode ou quer fazer nada. NADA. Mas para que pagamos nós a estes gajos todos se nenhum deles resolve seja o que for ? É como se tudo fosse inevitável. Como se já estivéssemos todos condenados. É desesperante, porra, chega um homem aos 65 anos e o que vê é um mundo de interesses, um mundo de dinheiro e ganância, um mundo sem deus, nem esperança nem amanhã. ...Sabem uma coisa ? É pela negativa, bem sei, é egoismo, também, mas que hei-de fazer ? A ideia é perturbante ( tenho uma filha e gente de quem gosto ) mas tentadora : chegar á velhice num mundo destes talvez nem seja mau de todo. Menos coisas lamentamos perder, menor será a dor da partida.
PS - que ideia parva esta minha última ... desculpem-me, é a esclerose a atacar !

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