sexta-feira, maio 04, 2012

O CAMINHO PARA A DERROCADA

Portugal está meio apalermado, meio apatetado. Aquela ideia de que tudo se compunha sempre, que o melhor era não nos preocuparmos demasiado parece que já não funciona. Não se vislumbra oiro do Brasil, o petróleo do Alentejo está demorado, a pimenta da Índia já ninguém a compra ( e também já não há India portuguesa ) e os dinheiros da Europa vão escasseando. Co'os diabos, querem ver que é desta que temos mesmo que trabalhar a sério ?
Vai ser chato como tudo. Não temos empresários decentes, nem trabalhadores qualificados, nem bancos interessados na economia real ( por oposição ao lucro fácil ), nem políticos com uma visão descomprometida e nacional. Como é que vamos conseguir ?
Competitividade ? Mas como, Deus meu, se a única coisa que todos estes gajos pensam é em reduzir salários ? Como é que, com todas estas Universidades e Institutos e Academias ninguém ainda explicou a esta gente que a competitividade é uma coisa que pouco tem a ver, hoje, com salários baixos ? Porque é que essa gente não reflecte um pouquinho sobre a AutoEuropa, aqui entre nós, ou sobre o êxito de algumas firmas portuguesas no estrangeiro ?
O que é que caracteriza essas firmas, o que é ? Salários baixos ? Uma produtividade espantosa ? Custos extremamente baixos dos factores de produção ?
Ná. Frio.
É simples : produzem artigos de grande qualidade, apetecidos por muita gente no Mundo. Criaram uma imagem, defendem-a, vão sempre melhorando o que produzem, situam bem o comprador-alvo dos seus produtos, gastam rios de dinheiro em organização, em equipamentos topo de gama, em designers, em marketing et voilá ! Tão simples como isso.
Ou acreditam que os automóveis chineses, de concepção chinesa, mesmo com a mão de obra ao preço da uva mijona, vão competir com os Volkswagen, BMW e Mercedes ? Não me parece.
Então ? Porquê insistir na tecla já muito gasta dos salários ?
A resposta é simples : porque é fácil, não obriga os empresários a grandes estudos nem reconversões nem investimentos e sempre vai dando para o BMW e a amante, para quê outras preocupações ?
E é assim, neste doce torpor, neste ambiente anestesiado, com governantes e presidentes apáticos e conformados, com sindicatos atónitos e de olhar esgazeado, é assim que vamos vivendo e morrendo lenta mas inexoravelmente.
Embora toda esta boa gente vá fazendo de conta, fingindo que fazem a mais pequena ideia do que estão a fazer. Desde 1976, pelo menos, que vejo este fingimento sorrateiro, esta delapidação morna e esconsa do nosso país, este caminhar suave para a derrocada final.
Digam-me que estou enganado, POR FAVOR.

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