terça-feira, novembro 30, 2004

FINALMENTE !

Com mais de quatro meses de atraso, o Presidente da República decidiu dissolver a Assembleia da República e abrir caminho a eleições antecipadas.
Ouve-se um suspiro de alívio generalizado, o próprio Santana Lopes pareceu resignado e mesmo aliviado.
Ninguém agora irá contestar com grande veemência esta decisão do Presidente, depois de ser tão visível a balbúrdia e trapalhada política que este Governo trouxe à vida nacional.
Dá a ideia que Sampaio esperou por essa má actuação de Santana Lopes para ganhar força e tomar uma decisão quando toda a gente já tivesse visto, na realidade, o que valia este Governo.
O lider do PS é hoje Sócrates, e não Ferro Rodrigues, não se esqueçam também.
Aparentemente, pois, a actuação do Presidente da República foi impecável e muito inteligente, quando examinada na sua globalidade.
Discordo.
É que não era preciso ser bruxo, quatro meses atrás, para perceber que era isto que iria suceder, sendo Santana Lopes quem é. E, se isto é verdade, estes quatro meses foram um tempo perdido para o País.
Ou talvez não, pensando melhor.
Agora, a pouca aptidão de Santana Lopes para Primeiro-Ministro foi abundantemente demonstrada.
Agora, como exigia há dias Cavaco Silva, talvez tenha chegado o tempo da entrada em cena de políticos-homens e mulheres de barba rija, em vez de rapazes reguilas e atrevidos.
O unico problema é que ninguém sabe onde eles estão, esses políticos de primeira água ...

sexta-feira, novembro 26, 2004

COERÊNCIA OU TEIMOSIA ? CORAGEM OU SUICÍDIO ?

Impressionante. Intrigante.
Não consigo compreender a persistência teimosa do PCP nos ultimos anos.
Será que a verdadeira questão, o verdadeiro objectivo daquele partido é a coerência com as posições anteriores ?
Será que a virtude extrema de um militante do PCP é permanecer cego e surdo a tudo aquilo que os rodeia ?
Não mudar é, em si mesmo, uma virtude ?
Como explicam os dirigentes do PCP que o partido tenha cada vez menos votos, cada vez menos influência mesmo nos estratos sociais de cuja origem se reclama ?
Que critérios usam esses dirigentes para aferir a adequação das suas opiniões e das suas propostas políticas ? Ou essa questão não os preocupa ?
Que estranho maniqueismo os faz considerar como traição ou colagem ao PS e à direita qualquer crítica interna, qualquer proposta de alteração e adaptação aos tempos modernos ?
Que raio de eficácia política ou social poderá ter um partido que está tão desajustado da realidade como se vivesse noutro país ?
Que estranho autismo os fará manter uma linha política que a história mostrou ter sido catastrófica e criminosa em tantos países do mundo ?
Que espantosa cegueira os faz ignorar os anseios e necessidades das camadas populacionais mais necessitadas e falar como se Portugal em 2004 fosse um país de operários e camponeses ?? Onde é que diabo estão esses gajos ?
E sabem o que é mais dramático ?
É que tenho a convicção de que seria muito importante para o país ter um PCP moderno e ajustado às novas preocupações. Um partido como o PCP seria um tempero indispensável numa sociedade demasiado liberal, demasiado centrada numa política de voragem de destruição, abdicação e rapina.
Um PCP revigorado e actualizado seria tão util ao nosso país como uma URSS, igualmente actualizada e democratizada, seria ao Mundo, em contraponto a uns EUA demasiado impantes e impunes.
Não se trata de trair seja o que for, ou de cedências ou de desvios ... trata-se apenas de inteligência, sensibilidade, capacidade de leitura da realidade e, talvez mais importante que tudo isso, trata-se de interesse genuino pelos mais desprotegidos da sociedade.
Tudo aquilo que Jerónimo de Sousa não vai ser capaz de fazer. Com a indispensável vénia de respeito ao homem que ele é.
Já o disse uma vez e digo-o hoje outra vez : mas porque é que o PCP devia ter um lider diferente, se os outros todos têm os que têm ?

terça-feira, novembro 23, 2004

UMA VIAGEM AO RIBATEJO

Saímos de Lisboa pelas 10 da manhã, eu todo engaiolado numa caixa de plástico com muitas frestas que me permitem ver a rua e as pessoas. Não fazia a mínima ideia para onde íamos, a mim ninguém diz nada por mais que eu mie a reclamar. Fosse como fosse, foi agradável a viagem : a minha dona tirou-me da caixa e deitou-me no seu colo e eu ia vendo as árvores a passar, lá fora, muito depressa.
Sabem a velocidade que temos de dar quando queremos apanhar um rato ou um pássaro ? Pois eu acho que íamos a andar mais depressa ainda que isso. Não faço ideia de como é possível uma coisa dessas, deviam ver ...
Uma soneca e chegámos. Numa terra do Ribatejo, ouvi-os dizer, mas não me ralei nada, porque me foram mostrar um sítio muito bonito ( o que será um quintal ? ), cheio de ervas, ramos de árvores espalhados pelo chão e muitos cheiros novos ... Tchiiii, aquilo pareceu-me muito grande, mas também é verdade que eu sou pequenito e acho tudo muito grande, porque ainda não sou capaz de correr muito depressa.
Só vos digo que foi a sensação mais maravilhosa que tive até hoje ! A princípio estava um pouco medroso, havia uns arbustos muitoooooo altos e cheios de esconderijos e passagens secretas, mas nunca me afastei muito do meu dono, essa é que é a verdade.
Ele andava a apanhar umas bolas amarelas, de umas árvores que vi com muitas dessas bolas penduradas, e punha-os numa cesta. Não faço a mínima ideia para que quer ele aquilo, nem sequer cheiram bem, as bolas, fui lá cheirá-las e quase espirrei ! Tive que lavar as mãos bem lavadas a seguir, aquilo até sabe mal ! É lá com ele, pensei, eu tenho aqui muito com que me entreter.
O pior foi pouco depois ... de repente, aparece-me à frente, vindo não sei donde, um tipo muito maior e mais velho que eu, preto com grandes malhas brancas. O parvalhão estava todo excitado, pôs-se a falar grosso e a mostrar os dentes, como se me fosse assustar com aquilo ... e a verdade é que assustou mesmo, o estúpido. Lá tive que miar a pedir auxílio ao meu dono : ele olhou e começou a dizer palavrões para o cretino invasor e a correr direito a ele, enquanto me pegava ao colo. O outro, o herói ribatejano, só teve tempo para fugir dali, a vociferar e a bufar . Bem feito, este meu dono ainda serve para alguma coisa ! Ouvi-o depois ( ao meu dono ) a dizer não sei quê de gatos territoriais, mas achei aquilo uma grande léria. O outro tipo deve ser é mesmo parvo de todo, que mal lhe ia eu fazer ?
Bem, com aquela mania das explorações, tinha-me esquecido de comer, o que raramente me acontece. Fui reclamar à minha dona ( acho que ela é que me sabe compreender quanto a essas coisas ) e lá me serviu um magnífico prato com bocadinhos de uma coisa muito saborosa a que ela chama peixe. Não sei bem se é peixe se é pescada, porque já a ouvi dizer as duas coisas... se calhar, ela não sabe bem o nome e diz outro qualquer, de vez em quando. Aquilo é mesmo bom, seja uma coisa ou outra, não tenho querido comer mais nada ... A não ser, claro, para acompanhar, um pouco de um líquido cheiroso e saboroso, parecido com aquilo que eu chupava na minha mãe. Também gosto muito disso.
O meu dono prefere um líquido, também, mas o dele é umas vezes quase preto, outras vezes quase amarelo, ainda não percebi porque é que ele muda de côr.
Bom, não vos quero maçar mais ... daí a um bocado, lá fomos outra vez para aquela casa esquisita que anda muito depressa. Desta vez, nem sequer me puseram na caixa que eu odeio, fui directamente para o colo da minha dona.
E sabem que mais ? Adormeci logo, estafado com as correrias e saltos. Quando acordei já estava na minha casa verdadeira outra vez, estoirado de todo, sem sequer conseguir abrir os olhos ( ainda não tenho 2 meses, é preciso ver ) ... mas feliz com aquela aventura.
Aquilo de andar “à solta” deve ter as suas compensações ... tenho de lá voltar !

domingo, novembro 21, 2004

ABAIXO O SUOR NA EDUCAÇÃO !

Psicólogos, pediatras, pedagogos e sei lá mais quantos “sábios” vieram a terreiro desancar nos professores que se atrevem a mandar os meninos e meninas fazer trabalhos em casa ( TPC ). Pobrezitos, desunham-se a estudar a sério durante todo o santo dia, empenhados, entusiasmados, sem tempo sequer para limpar o suor que lhes cai rosto abaixo, enquanto escrevem e lêem nas salas de aula e depois ainda têm que ir para casa fazer TPC !!
E gastam nisso cerca de 5 horas por semana ! CINCO !!
Já viram ? Vejam lá se no resto da OCDE é assim ... é o tanas, claro : na média da OCDE trabalha-se MUITO MENOS, cerca de 4 horas e 36 minutos !! Faz toda a diferença, são cerca de uns longos 5 minutos por dia de diferença, o que é COLOSSAL !
Sinceramente, dou toda a razão aos “sábios” que levantaram esta questão. Os nossos jovens são autenticamente massacrados nas escolas, obrigam-os a trabalhar de uma forma desumana. E depois, para quê ? Não somos nós já dos melhores da Europa, se é que não do Mundo ? Pelo menos em Matemática, Física, Informática, Línguas ( incluindo o Português ) .... temos sempre as melhores classificações nesses concursos internacionais, como os Jogos Olímpicos da Matemática e outros ...
Eu iria até mais longe : proibia os TPC ; acabava com todos os exames, locais e nacionais ; proibia os professores de fazer testes escritos ou orais ( já pensaram no stress que isso provoca ? ) e, finalmente, decretava que só havia escola três dias por semana. Desses três dias, um deles seria obrigatoriamente dedicado ao futebol ou ao teatro, conforme as inclinações dos alunos.
Afinal, andar ao pontapé uns aos outros e a fazer de conta que somos um povo decente é aquilo de que mais precisamos ao longo da vida, não é ?
Então ? 'Bora nisso ?

sábado, novembro 20, 2004

DOUTORES EM ECONOMIA, POLÍTICOS ... E NÓS, OS CRIMINOSOS CONSUMIDORES !
( texto não aconselhável a pessoas impacientes ou àquelas que apenas gostam de ver a quinta não sei de quem )

Todos sabemos que a política, em democracia, é uma espécie de equilibrio na corda bamba, em que se perdem votos, frequentemente, quando se tomam boas decisões e, ao invés, se é recompensado com a confiança acrescida das pessoas ao tomar decisões estratégicamente erradas. A esta ultima táctica chama-se demagogia, toda a gente sabe isto.
Já alguma vez pensaram, porém, quem é que avalia, com rigor e isenção, se uma determinada decisão política é ajustada, errada ou apenas demagógica ?
Não é problema menor, responder a esta questão. Bem vistas as coisas, uma decisão política é sempre correcta para os correligionários do governo que a tomou e normalmente errada para os seus opositores. No caso de não a poderem baptizar de errada, então chamam-lhe demagógica. Ou seja, não é má em si mesmo, mas está-se mesmo a ver que foi tomada só para ganhar votos.
O povo, esse, habituado a estas questões, está-se nas tintas para a eventual demagogia : toda a gente sabe que em vésperas de eleições é que se resolvem os problemas...Há mesmo quem afirme que as eleições deviam ser feitas todos os anos, por esse motivo !
Não me compete defender este governo que temos agora. Nem nenhum outro, para ser verdadeiro. Como muitas outras pessoas, não gosto mesmo do “cheiro” que este poder político emana.
Mas ... baixar o IRS é bom, mau ou demagógico ? Desbloquear o acesso às contas bancárias é bom, mau ou demagógico ? Aumentar os funcionários públicos é bom, mau ou é demagógico ?
Das críticas que têm vindo a aparecer ao projecto de orçamento para 2005, entre elas as do Banco de Portugal, retiram-se as seguintes ideias :

--> Não há margem de manobra para baixar impostos ... ou, noutra versão, a baixa dos impostos não existe, de facto ;
--> O consumo está a aumentar – e irá ainda aumentar mais, com este orçamento – quando o que devia aumentar era as exportações ;
--> Não podemos ainda deixar de nos preocupar com os déficits orçamentais, e este orçamento não cuida disso ;
--> Nesta fase do ciclo económico, em que começa a haver algum crescimento, deve reforçar-se a contenção e a consolidação das contas e não alinhar no “esbanjamento” como aconteceu no guterrismo.


Pessoalmente, acho um piadão a estes doutores da pseudo-ciência económica. Esquecem-se, quase sempre, que os actores da economia real são pessoas e não numeros, e ficam muito admirados e escandalizados quando essas pessoas ( que para eles são apenas variáveis de um sistema ! ) resolvem não proceder como eles previram ou gostariam.
Agora a grande algazarra é contra os consumidores, que decidiram começar a consumir coisas ( automóveis, TVs, casas, que sei eu ... ) antes deles dizerem “Já podem !” ....
É que assim, as importações aumentaram muito mais que as exportações e isso é horrível, dizem eles ! Não é sustentável !
Mas que culpa têm as pessoas que cá em Portugal não se produza nada a não ser receber turismo ? Vamos todos ficar à espera que se resolvam a aumentar as exportações antes de comprar casa e carro e rádio e televisão ? E isso é que seria bom para a economia ?
Ora deixem-se de tretas para-científicas, sim ? Não são os consumidores que devem resolver os problemas estruturais do país, são eles, os políticos, auxiliados pelo Banco de Portugal e outras digníssimas instituições. E são os empresários, também.
Mas já alguma vez, em algum país do mundo, os economistas e analistas financeiros e políticos ajudaram a criar o que quer que fosse ?
E quanto a contenções salariais, que o senhor dr. Vitor Constâncio tanto se afadiga a recomendar, vivamente, nos ultimos anos, apetecer-me-ia aconselhá-lo a começar por si e pelos outros administradores do Banco de Portugal. O exemplo tem sempre muita força, sabe ? Mas se calhar vão dizer que isto é demagogia da minha parte ...
Conclusão : não temos um governo capaz, é certo, mas esta oposição e estes técnicos das coisas económicas também não nos dizem para onde devíamos ir, pois não ?

sexta-feira, novembro 19, 2004

O PIPOCAS E OS TRÊS LIDERES QUE TEMOS

Está decidido. Após “auscultação consensualizada” ( ?? ), como diz o comunicado do PCP, resolvemos dar o nome de PIPOCAS ao nosso jovem gatinho. É amarelo e branco, como elas, e tem uns olhos doces. O nome é sonoro e fácil de dizer. Fica, pois, PIPOCAS.
Como não vamos realizar um congresso só para ratificar este nome, fica assim e pronto. Nem mais é de esperar num país onde nem sequer o governo foi eleito.
Voltando ao início, já leram ou ouviram o comunicado do PCP ? Parece que Jerónimo de Sousa vai mesmo ser o futuro secretário-geral daquele partido.
Claro que têm todo o direito de escolher Jerónimo de Sousa para liderar o partido. Também o PSD escolheu Santana Lopes e o PS elegeu José Sócrates.
Três escolhas ambíguas, discutíveis, sem esperança nem emoção. Lembram-se de Sá Carneiro, Soares e Cunhal ? Meu Deus, até onde iremos descer ?
Nenhum destes homens é, aparentemente, aquilo que o seu partido mais precisaria. Ou mesmo aquilo que o país exigiria. Mas todos eles são, certamente, aquilo que os seus partidos merecem actualmente... e, se calhar, o mesmo se aplica quanto ao país.
Já notaram que continua a imperar o domínio da imagem, da comunicação social, do tipo que já tem um nome feito e conhecido ? Até o PCP já aderiu à moda de escolher um lider mediatizado e mediatizável.
Enfim, é assim que somos, que havemos de fazer ?
De qualquer forma, vai ser giro observar as discussões destes três candidatos à liderança do país ( mais dois que o terceiro, embora ), já que nenhum deles tem nada no seu interior parecido a um projecto estruturante, uma ideia de futuro, um sonho sequer.
Nada. Todos eles são especialistas do vazio mediatizado, da palavra ôca e sem sumo.
Vão ser mais uns anos perdidos, os próximos.
Uma vez mais, Portugal adiado.
Entretanto, viva o PIPOCAS !

quinta-feira, novembro 18, 2004

NÃO É SÓ NO REINO DA DINAMARCA ...

Estas discussões na Assembleia da República são uma enorme perda de tempo para os deputados e de dinheiro para os contribuintes. Ninguém nunca nos espanta com uma posição original, independente da estratégia do seu partido, algo de pessoal. É sempre a mesma troca absurda de argumentos a que ninguém liga. É uma coisa enfadonha, sem garra, sem imaginação e sem paixão. E também sem futuro, não acredito que esta monotonia e ineficácia se possam manter por muito mais tempo.
A disciplina partidária obriga o deputado a ter uma opinião única, a do seu partido. Dizem os defensores desta prática que, de outra forma, os partidos ficariam ameaçados, sem nunca poderem definir e aplicar com segurança uma estratégia integrada na sua luta.
Pois é, isso é o que eles dizem.
O que eu digo é que isto é revoltante, repugnante mesmo. Estou farto de ver senhores tipo DVD ( é preciso actualizar aquela da cassette, não acham ? ), muito bem postos, todos a dizer o mesmo, em cada um dos partidos. Se assim é, para que serve uma discussão na Assembleia ? Só para fingir que os problemas são discutidos ?
Confesso, hoje, agora e aqui : não tenho o mínimo respeito pela Assembleia da República. Nunca consentiria em ser deputado.E não me culpem, se ficarem chocados com a afirmação. Culpem-os a eles, aos senhores deputados, e a todos os dirigentes partidários que deixaram desprestigiar completamente aquela casa.
E nem sequer percebem isso, nem sequer sabem o que pensam deles as pessoas que dizem representar.
Mas nada disto é para admirar, de facto. A vida política nacional está em degradação acelerada, cheira a pôdre por toda a parte. Poucos orgãos são respeitados, há uma sensação vaga de que todos podem fazer o que quiserem, porque ninguém tem poder, verdadeiramente. Os tribunais estão desacreditados ; a Assembleia é uma farsa ; o Governo dá uma sensação de irrealidade, ninguém aposta nele a sério ; os hospitais ou não conseguem atender as pessoas doentes ou provocam-lhes a morte ; as escolas vivem o seu dia-a-dia a fingir que ensinam alguém ; as finanças cobram dinheiro aos pobres e ignoram os ricos ; as televisões e os jornais despedem quem lhes não agrade ; a Alta Autoridade para a Comunicação Social diz que houve pressão ilegitima de um Ministro deste Governo sobre a TVI e os deputados da maioria assobiam para o ar e dizem que não concordam ....
No meio disto tudo, o senhor Presidente da República preocupa-se, honra lhe seja feita, e a Associação 25 de Abril promove um colóquio sobre a democracia ...
Sabem o motivo de tudo isto ?
Os homens e mulheres do meu país deixaram de ter valores e ética. Passaram a ter partidos e sindicatos e associações patronais e coisas dessas, mas perderam a vergonha, a honra, a modéstia, a sinceridade, a espiritualidade, a verticalidade e tantas outras coisas.
A hora é dos mercadores de bens e de almas. A hora é dos vendilhões do templo. E o pior de tudo é que já não vejo nenhum Jesus Cristo que os expulse das nossas vidas.

segunda-feira, novembro 15, 2004


UM NOVO AMIGO
Pois é : já tenho aqui em casa um novo inquilino, a quem vou fornecer cama, mesa e pêlo escovado em troca da sua amizade e companhia. É amarelo(a) e branco, tem um mês e meio ( nasceu a 30 de Setembro ultimo ) e veio do Estoril... Tinham-nos dito que era uma menina, e demos-lhe o nome de Lili, dado tratar-se de uma gata da linha, né ? Acontece que, afinal, parece tratar-se de um garboso mancebo e estamos ainda indecisos quanto ao nome ...
É muito corajoso e voluntarioso, já trepa às camas e salta delas abaixo, começou a comer sólidos hoje mesmo ( uns pedacinhos de peixe que o deixaram de cabeça à roda ... ) e tem um feitio alegre, falador ( mia muito ! ) e sociável.
Se quiserem, podem sugerir nomes para o bichano. Estão a vê-lo aí em cima, não estão ?
Claro que tenho ainda muito vivas as recordações do Cenoura, uma amizade de dois anos e pouco, e até me sinto um pouco a "trair" essa mesma amizade. Sério, é estranhíssimo que essas emoções aconteçam nas nossas relações com bichos e não só com pessoas.
Achámos, porém, que adoptar um novo gatinho seria o melhor remédio para a tristeza que foi a perda do Cenoura.
E parece dar resultado, a minha filha anda feliz com o bichano e eu, eu ando com ele ao colo e até lhe ponho uma manta de lã por cima, para ele dormir quentinho !
Vamos ver se consigo convencer este fulaninho que os dentes e as unhas dele e a minha pele não são lá muito compatíveis. E que essa incompatibilidade também existe em relação à pele dos sofás e ao tecido dos cortinados...
Ir-vos-ei dando notícia do desenvolvimento do jovem felino. Por enquanto, dorme beatificamente dentro da sua cesta, aqui junto a mim, como se nada no Mundo o pudesse ameaçar.

sábado, novembro 13, 2004

DESGARRADA ESQUIZOFRÉNICA

Para que serve este congresso do PSD ?
Afinal, os impostos vão descer em 2005 ? Ou só em 2006 ? Ou não vão mesmo descer ?
A proposta de orçamento de estado para 2005 é despesista, de contenção ou demagógica ? Este nosso primeiro-ministro é mesmo a sério ou é só uma imagem virtual ?
Marcelo Rebelo de Sousa foi ou não “empurrado” para fora da TVI ?
A liberdade de imprensa está em risco em Portugal ?
O senhor presidente da república continua ou não preocupado ?
Álvaro Barreto acha que Paes do Amaral apenas fez aquilo que todos os empresários fazem, e que é não hostilizar o poder político. Não se tratou, pois, de pressão sobre Marcelo. Álvaro Barreto pensa que nós somos estúpidos ? Ou é ele que está xoné ?
Jerónimo Sousa vai ser o novo líder do PCP ? Vai mesmo ??
Guterres quebrou um silêncio de 3 anos para dizer que a vida política portuguesa actual mais parece um reality show ... não deve mesmo gostar nada de reality shows, para dizer isto !
Os palestinianos enlouqueceram e invadiram o funeral da Yasser Arafat... aquelas imagens quase desfizeram, em breves minutos, aquilo que Arafat levou uma vida inteira a fazer : a credibilidade da Palestina para vir a ser um Estado soberano.
Um muçulmano extremista quase degolou, em plena Amsterdão, o realizador Van Gogh, só porque este filmou um documentário denunciando a forma ignóbil como o islão trata as mulheres. Ou pelo menos como certos muçulmanos o fazem, invocando o islão.
Esta acção, pretendendo ser de vingança e de defesa da dignidade, apenas confirmou aquilo que Van Gogh denunciara : a coberto da religião, há formas de pensar e de actuar que não podem ser albergadas e toleradas na Europa. Nem se calhar no resto do Mundo.
E por aí fora, assim vai este país e este mundo, a caminhar apressadamente para a insalubridade mental.

terça-feira, novembro 09, 2004

BOLAS, QUE MAIS ME IRÁ ACONTECER ??

Nos ultimos dias tem sido uma avalanche de coisas desagradáveis : a revolta dos electrodomésticos, para começar, com as baixas do aspirador e da máquina de lavar roupa que tive que substituir. Não sem antes percorrer dezasseis lojas de electrodomésticos : umas não têm para entrega, as outras entregam mas não recebem ( os equipamentos velhos a substituir ) e ainda há aquelas que não têm nada em armazém nem parecem interessadas em encomendar ... enfim, Portugal, não é ?
Depois, o cartão do multibanco que se recusou a funcionar, obrigando-me a ir ao banco pedir outro e a resmungar com os tipos que, em pleno século XXI, são incapazes de produzir cartões com tarjetas que não se desmagnetizem.
Pelo meio, mais uma escritura, naquele edificio gigantesco que é a sede da CGD em Lisboa : burocracia, atrasos, calor dentro da sala em pleno Novembro...
Que mais ? Ah, uma mini-viagem meio de aventura que tinha combinada com pessoa amiga foi para as urtigas, inesperadamente, na véspera da largada ...
E ainda falta algo ... ah, sim ... da clínica veterinária telefonaram a dizer que a gatinha que nos tinham prometido tinha metido requerimento para ficar a mamar na mãe durante mais uns dias. Que havia de fazer ? Deferi o requerimento e tive de aturar a desilusão da minha filha que anda impacientíssima para ter a gatita cá em casa.
Como vêem, só chatices, desilusões, frustações. Ehehehehe ...Só duques, com este jogo não vou longe.
E não sei se notaram que, no meio destas coisas chatas todas, nem sequer falei do Governo e dos seus actos esquisitíssimos. Nem do n_ésimo ataque americano a Falluja, destinado ao êxito estrondoso dos anteriores, certamente. Nem de mais uma brilhantíssima dissertação política desse portento intelectual que é o sr. Ministro das relações parlamentares.
Náaaaa ... desta vez, para me chatear, bastou uma máquina de lavar roupa que desatou a fazer disparar o disjuntor geral do meu quadro eléctrico ...
Grrrrr ... que raiva, pá !!

segunda-feira, novembro 08, 2004

CADA VEZ MAIS EGOISTAS E INDIFERENTES ?

O mundo está esquisito. Todos os dias, a todas as horas, somos bombardeados com violência, com sangue, com mortes, com a fome, com actuações autoritárias ... é uma verdadeira orgia permanente de sangue, suor, lágrimas e horror.
Esta é uma das consequências da tremenda velocidade com que as notícias circulam em todo o Mundo.
Qual vai ser, a prazo, o efeito destas realidades que todos os dias nos entram pela casa adentro ?
Vai ser ...

(a) uma maior tomada de consciência dos males que afligem o mundo e consequentemente uma atitude mais participante das pessoas ?
(b) uma progressiva banalização do horror, e, consequentemente, a indução de uma atitude cada vez mais passiva e desinteressada das mesmas pessoas perante esses problemas ?

Não sei se será hoje possível responder claramente a esta pergunta. Mas é pelo menos possível especular, aduzindo argumentos.
Por mim, acho que todo este imenso show permanente não irá conduzir a nenhuma atitude positiva de reacção. Quando o medicamento é ministrado em overdose, o máximo que se consegue é uma intoxicação.
E se assim for, a violência cada vez será maior, por ausência de oposição e indignação, perante rebanhos de seres humanos cada vez mais apáticos e egoístas.
Será este o cenário previsível do nosso futuro ?

domingo, novembro 07, 2004

UM FIM DE SEMANA FEITO DE NADAS

Este foi um daqueles fins de semana em que, tudo pesado e bem visto, não fiz nada. Li, vi cinema, fui às compras, jantei fora na sexta feira ... mas a minha sensação é de que nada se passou. Conhecem esta sensação, não conhecem ? Quando tudo o que se faz sabe a rotina e a dejá-vue. Quando nada de excitante acontece, como por exemplo aquela balzaquiana jeitosa que mora ali em frente perguntar-me se quero jantar com ela ...Enfim, entendam isto como um exemplo, apenas, ehehehehe ...
Percebem ? Não aconteceu nada este fim de semana.
O melhor de tudo, afinal, foi aquele franguinho assado, que comi ao jantar com a minha filha, num pequeno restaurante ao pé de mim. Nada de fantástico nem sofisticado : apenas um frango assado, muita salada e algumas batatas fritas. Aaaahhhh, e meia garrafa de um vinho tinto que não envergonharia ninguém, embora fosse correntíssimo de lineu. E uma boa cavaqueira, daquelas que só se tem com alguém que nos é muito querido.
Tive em seguida uma trabalheira danada a convencer a minha filha a ir ver um filme português que eu vira recomendado ... Sabem como é, os filmes ( e outras coisas ) portugueses não são lá muito entusiasmantes, pois não ?
Lá acabámos por ir. Fiquei de lhe pagar uma coima se ela não gostasse ! Já vêem como a cultura é dificil em Portugal !
O filme não é mau, não senhor : Noite Escura. Uma estória diabólica, de um casal que explora uma casa de alterne e que acaba por vender uma filha, carne para prostituição, como pagamento de uma dívida a uma mafia de leste ...
Linguagem vernácula, como se imagina, sangue, champagne, meninas e pseudo engatatões, o lado sórdido e miserável do negócio, uma boa direcção de actores ( pareceu-me ), uma montagem influenciada pela linguagem entrecortada dos clips musicais, um certo ar de fábula teatral tal o numero de cadáveres e outras tragédias tudo na mesma noite ... mas enfim, come-se, como dizia um amigo meu ( que por sinal falava de outras coisas que não cinema, quando usava essa frase ).
Bom, hoje ... hoje ? que raio me aconteceu hoje ? Deixa ver ... fui às compras, levámos algumas para casa da minha filha, fui depois lavar o carro ( gosto daquele sistema de sermos nós próprios a lavar o carro ), bebi um café, e ... pronto, era noite.
Ainda olhei para o televisor, o Benfica ganhava ao Setúbal ( devem estar doentes, aqueles tipos do benfica ! ) e mais nada, aqui estou a alinhavar esta crónica.
Esta crónica do nada.
Até amanhã, minha gente.

sexta-feira, novembro 05, 2004

A INCONTORNÁVEL E INCOMPREENSÍVEL REELEIÇÃO DO SR. BUSH

É incontornável. Ainda que eu queira esquecer e fingir que não sei de nada, a realidade é omnipresente e agride-me : Bush foi reeleito. Vamos ter de aturar Bush durante os próximos 4 anos.
Como é possível ?
Procurei hoje respostas. Como ? Porquê ?
Pelo que li, mesmo os analistas norte-americanos estão sem respostas. Fizeram-se sondagens, estilo "o que mais o motivou para ter votado Bush ?" ... e sabem quais foram os resultados ? A causa isolada mais vezes invocada foi "por uma questão dos valores que defende", em 22% dos casos. Depois, em muitos por cento, também, por causa da maior credibilidade na luta contra o terrorismo...
Leram bem ? Tornem a ler, vá ...
Agora pensem comigo : então um tipo que (a) se cortou de ir para o Vietnam, usando a influência do paizinho, para uma guerra com que concordava ( mas que a fizessem os outros ) e que (b) mentiu descaradamente quanto aos motivos da guerra contra o Iraque e mais (c) andou completamente desnorteado e em fuga enquanto as torres ardiam e colapsavam ... então (d) um tipo que deixa andar à vontade o Bin Laden, o inimigo declarado nº 1 e se dedica a invadir um país onde ele não está e que nem sequer o apoia ... então um fulano destes é votado POR CAUSA DOS SEUS VALORES e da SUA CREDIBILIDADE na LUTA ANTI-TERRORISTA ????
Por ultimo, os analistas americanos, falam do chamado "teste da cerveja", que significa que os americanos tendem a votar no homem com quem mais à vontade se sentiriam a beber uma cerveja... E Kerry tem um perfil um pouco snob e assustador para esse americano médio, amante de cerveja e de um amigo a beber com ele ...
Bush sairia assim beneficiado do teste da cerveja, pelos vistos !
Maior estupefacção ainda : mas ele, Bush, nem sequer bebe cerveja, acha que beber uma gota de álcool é pecado !
Minha nossa, como diriam os amigos brasileiros, esta barra é mesmo pesada de compreender : não há nada a fazer contra esta lógica da América profunda e interior.
Estes eleitores tem todo o direito de ter votado como votaram, claro, mas a verdade é que vamos ter que aturar mais quatro anos o homem que descobriu ( e declarou ) que a maior parte das importações americanas estava a vir de fora.
Estes eleitores tem todo o direito de ter votado em quem julgam que os defende, mas a verdade é que vamos continuar a ouvir Bush declarar "Bin Laden, morto ou vivo", enquanto vai invadindo mais um ou dois países que não têm nada a ver com isso.

Não consigo compreender, que querem ?

quinta-feira, novembro 04, 2004

UMA HISTÓRIA DE JOBS PARA OS NETOS

Hoje, na sua crónica do Público, Eduardo Prado Coelho dá conta, embevecido, que Artur Maurício, seu velho amigo dos verões de S. Martinho do Porto, tomou posse como presidente do Supremo Tribunal Constitucional. Mais à frente, no fim da crónica, pergunta-se, ao olhar para o neto, “de que virá ele a ser presidente. As crianças que correm à nossa frente serão reitores, dirigentes de empresas, treinadores de futebol” ...
Pois é , estes senhores são tão cristalinos, puros ... e elitistas nos seus pensamentos que até arrepia. Por detrás destas palavras de EPC está um mundo inteiro de injustiças e de desigualdades, das quais ele parece nem se dar conta.
Porque raio é que o neto dele há-de ser presidente seja do que for ou dirigente de uma qualquer empresa ?
Porque carga de água é que ele tinha o direito de andar em Letras e passar férias tranquilas e divertidas em S. Martinho do Porto, enquanto outros comiam o pão que o diabo amassou e as unicas férias que conseguiam era na Guiné, Angola ou Moçambique ?
Que espécie de alquimia social e política faz destas pessoas hoje seres de esquerda, fazedores de opinião de certos estratos intelectuais do nosso país ?
Que sabe ele, EPC, de injustiças, falta de liberdade, ausência de oportunidades, luta por um lugar ao sol ?
Claro que sabe pouco dessas coisas todas e o que sabe é por ouvir dizer ou por ler.
Porém, acho que EPC pouco se importa com isso.
A razão está do seu lado, é forçoso reconhecê-lo : o seu neto há-de mesmo vir a ser presidente de qualquer coisa ou dirigente de uma grande empresa, enquanto que o meu neto e o neto ali do Zé da Esquina, vendedor de jornais e cautelas, hão-de continuar a ser presididos ou dirigidos pelo neto de EPC ...
Noblesse oblige não é ?
Afinal, continuamos todos a estar condenados ao nosso destino, logo à partida. Inexoravelmente.
Inapelavelmente.
Com muito poucas excepções.
Por isso, EPC tem razão na sua crónica.
O que ele finge ignorar é que essa razão se alimenta de uma enorme injustiça e explica a ineficácia deste nosso país no seu conjunto.
É que nada garante que o neto de EPC venha a ser mais competente como dirigente ou presidente ou reitor do que o meu neto ou os netos de todos os Zé da Esquina deste país.
Antes pelo contrário : há muitos mais netos de Zés da Esquina neste país que netos de EPC.
Simples análise probabilística.
Mas a verdade é que o neto de EPC já tem mesmo o job garantido, essa é que é essa, e eu ... nem sequer tenho um neto, ainda, imaginem !

terça-feira, novembro 02, 2004

UMA CLÍNICA LISBOETA, PERDÃO : POLICLÍNICA !

Conhecem essas clínicas privadas que foram instaladas em apartamentos inicialmente destinados a habitação ? Lisboa está cheia dessas clínicas, ou policlínicas, como lhe chamam, vangloriando-se das consultas a duas ou três especialidades médicas.
À entrada do prédio há sempre um destaque especial para o 2º Dto – Policlinica do Rato, ou coisa do género. No cimo das escadas, transposta a normal porta de um andar, depara-se-nos um guichet minúsculo, obra-prima de desenho arquitectónico do primo do sócio principal da clínica. Perdão, da policlínica.
No guichet preenche-se uma ficha de cliente, não esquecer o numero do cartãozinho de saúde ( é ADSE ?? ). Ou sorrimos de felicidade, se já somos clientes e não precisamos de preencher o raio dos impressos.
Depois, temos um antigo quarto de dormir ou dois, transformados em sala de espera. Pintura a branco, uns bancos de plástico ao longo das paredes, um ou dois aparelhos de TV com imagem mas sem som ( sempre estamos numa clínica, não é ? ), uma mesa baixa com meia dúzia de “Máximas” e de “Vips” da “saison” passada ...
Sentadas, várias pessoas com ar de poucos amigos, como se estivessem todas terrivelmente doentes e não o quisessem dizer a ninguém. Velhas folheiam revistas de modas que não lhes devem dizer absolutamente nada.
Porque será que a maioria de pessoas nestas clínicas ( perdão, policlínicas ) é constituida por mulheres ? Apenas porque há mais mulheres ou será que elas são mais doentes ? Ou são tão doentes como os homens mas queixam-se e preocupam-se mais ? Aceitam-se opiniões ...
Um dos médicos assoma á porta da sala de espera e sussurra : Dª Felismina Silva . É ele, o clínico, que faz a chamada dos seus pacientes, numa acumulação de funções que diz muito sobre a política de emprego da clínica... perdão, da policlínica.
Adiante. Uma senhora de idade ( ehehehe, pr’aí da minha idade, mas muito mais velha ! ) veste uma camisola de lã, mais um casaco também de lã e, por cima, um casaco comprido de fazenda grossa, preta. Chove lá fora, mas aqui dentro da sala está calor. A mulher primeiro despe o casaco comprido, despe e tira o outro casaco de lã interior e volta a vestir o casaco comprido. Daí a minutos despe também o casaco comprido e põe-o pelas costas ...Mau, mau ...mais um pouco e tenho que aturar a velha a fazer strip-tease, não ?
Ao fim de duas horas ( o senhor doutor vem hoje mais tarde ) lá chamam a minha filha. Bem, talvez escape ao strip-tease.
Agora, deambulando pela sala, anda uma rapariga de 29 anos, desengraçada mas algo exibicionista. Sei a idade dela porque atendeu pr’aí uns 4 ou 5 telefonemas, repetindo sempre “obrigadinho, obrigadinho”, com um ar vagamente compungido e desanimado que eu não estava a perceber. Até que lhe ouvi : pois é, é o ultimo da casa dos 20, para o ano já terei 30, estás a ver ?
Fiquei mesmo com pena da moça, claro. Não pelos 29 anos, mas pela parvoíce que já não devia ter naquela idade. Com medo dos 30 ????? Meu Deus !
Bom, estava a ver que, depois de escapar ao strip-tease da outra velha ainda tinha que ir pagar um copo a esta velha prematura de 29 anos, tão em baixo a rapariga estava ... Mas não, a minha filha entretanto saiu da consulta, com uma data de papéis a esvoaçar nas mãos e proclamando “Cá comigo é sempre rápido, já tá !” ....
Afinal, ainda não tava tudo, eram precisas ainda cerca de trinta e nove vinhetas e códigos de barras e outros carimbos destinados a garantir a idoneidade do clínico e da clínica.
Perdão, da policlínica.
E aí têm a minha tarde de terça-feira, 2 de Novembro de 2004.
Confesso que só depois me lembrei do significado especial deste dia na nossa cultura.
Recordei então pessoas queridas que vivem ainda na minha memória. :(
Possivelmente, tal como você, leitor.
Vivamos, então, com as nossas mágoas e alegrias.